A derrubada da exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista, além de um “duro golpe contra a profissão”, como coloca o colunista do Diário Catarinense, Moacir Pereira (que não é formado em comunicação, mas também defende a exigência da formação acadêmica) vai muito além da baderna que as redações se transformarão nos próximos anos. De acordo com a decisão e segundo o ministro Gilmar Mendes em entrevistas posteriores à sessão da última quarta-feira, a regulamentação profissional só será exigida para profissões que necessitem de conhecimentos técnicos e científicos. Para todas as outras, bastará que se cumpra uma função dentro do mercado de trabalho.
Mas o que são os tais “conhecimentos técnicos e científicos”? Ninguém sabe ao certo. Só o que se sabe é que, durante a leitura do voto, o ministro defendeu a manutenção de registro para engenheiros, juristas e médicos, visto que suas profissões afetam diretamente a vida das pessoas. Mas se pensarmos com cautela nisso, qualquer pedreiro experiente, ainda que analfabeto, consegue construir uma casa sem a necessidade de um projeto estrutural. E, incrivelmente, obras que eles fazem não caem por cima das pessoas, como aconteceu no caso dos prédios feitos pela construtora do ex-deputado Sérgio Naya.
Da mesma forma, boa parte dos hipocondríacos seria capaz de prescrever uma receita médica para si e para outros. Os mais afetados por essa doença costumam ler todo o tipo de bibliografia médica, de simpatias a livros técnicos, apenas para descobrirem uma nova doença em si. E o que dizer dos açougueiros? Não acredito que seja tarefa fácil e que não requeira técnica para se descarnar uma perna de um bovino em pedaços sempre com o mesmo formato. Muitos deles talvez tenham mais experiência em cortar carne do que a maioria dos cirurgiões, visto que os primeiros fazem isso diversas vezes por dia, enquanto os últimos operam dois ou três pacientes durante o mesmo período.
Para os advogados, então, imagino que não deva ser difícil ler códigos, interpretar leis e argumentar suas petições em cima delas. Qualquer estudante faz isso nos seus trabalhos acadêmicos. A única diferença é o conteúdo abordado.
Se pensarmos nas Ciências Sociais, não precisariam existir cientistas políticos, economistas ou sociólogos. Com um pouco de leitura e boa vontade, todos poderiam exercer funções nessas áreas e serem, muitas vezes, melhores do que detentores de diplomas específicos. Não é possível entender porque motivo ainda se exige diplomas em concursos públicos para atuar nisso.
Claro, isso foi apenas mera divagação. É óbvio que cada uma dessas profissões precisa de conhecimentos que vão muito além da prática. Mas a discussão aberta pelo STF é uma que permeia a academia desde sempre: o que é ou não é ciência? Além de defender algumas das profissões supracitadas, o magistrado comparou o jornalismo a profissões de cunho intelectual, que não necessitam de conhecimentos científicos para serem produzidos. Dentre elas, estão as atividades de músico, escritor e ator.
Vamos destrinchar apenas um pouco cada uma das atividades.
Um bom músico (considero aqui apenas critérios técnicos, não criativos) realmente não necessita sequer ler partituras. Jimi Hendrix não sabia fazê-lo e dizia que imaginava cores ao compor suas melodias. Todavia, a física está absurdamente presente nesta atividade. Ciência reconhecida como tal e presente nas mais diversas áreas do conhecimento, ela é a base para os estudos que fazem com que um fio de aço ressoe dentro de uma caixa de madeira e produza som. Em todas as faculdades de música, esses princípios são estudados e conhecidos pelos acadêmicos. Mesmo quem não freqüente um curso superior na área, mas vá a qualquer escola de música aprender a tocar, também terá noções sobre esses princípios.
Indo mais além nesse caso, há ainda a musicologia, que estuda a interação dos sons com o corpo humano. De acordo com a teoria das ondas, todas as partículas são formadas por vibrações em freqüências específicas e ritmadas. Por esse motivo, utiliza-se a música para provocar reações físicas nos corpos. Estudos já mostraram, por exemplo, que o uso de música clássica pode aumentar a produção de leite de vacas.
No caso dos escritores, não acredito ser totalmente possível escrever uma história, seja ela qual for, sem nenhum tipo de pesquisa. Independente do tema, todos costumam usar situações que vivenciaram ou então se aprofundaram durante horas de leitura sobre o assunto. Caso contrário, como passar adiante idéias e conceitos através da literatura? Sem contar que é necessário saber, no mínimo, formar frases para se tornar um escritor.
Já com as artes cênicas, infelizmente, vemos que a maior parte dos “atores” que aparecem na grande mídia, nos dias atuais, surgiram da exposição em reality shows, ou simplesmente pela beleza física. Mas isso não é de praxe no teatro. Boa parte dos artistas cursa oficinas durante anos e outros muitos também passam pela faculdade para aumentarem seus conhecimentos na área. Vale lembrar que esses atores que só possuem apena um bom aspecto físico e não pelo intelecto acabam se tornando personagens caricatos de si em programas de humor como o Pânico ou o CQC.
Outra comparação completamente estapafúrdia foi com a profissão de cozinheiro. Sim, um bom cozinheiro não necessita de diploma ou mesmo de registro profissional. Mas o magistrado esqueceu que a legislação específica dessa profissão exige que todos os que trabalham na área de alimentação passem por um curso de manipulação de alimentos, o qual é aplicado por membros da vigilância sanitária, gastrônomos formados na faculdade ou nutricionistas.
Por menores que sejam, todas as profissões necessitam de conhecimentos que extrapolam a simples atividade intelectual ou prática. Profissionalizar os setores é garantir que se abram as portas do conhecimento para todos. Acabar com isso significa retroceder e limitar o acesso das pessoas a um mundo muito mais amplo que o do empirismo, o das idéias.
E, para constar, apenas uma lembrança aos magistrados: todos os jornalistas formados realizaram pesquisas de conclusão de curso utilizando métodos científicos de análise. O fato de termos sido aprovados pelas faculdades não nos torna cientistas também? Algum deles pode responder o que ainda falta?
Mas o que são os tais “conhecimentos técnicos e científicos”? Ninguém sabe ao certo. Só o que se sabe é que, durante a leitura do voto, o ministro defendeu a manutenção de registro para engenheiros, juristas e médicos, visto que suas profissões afetam diretamente a vida das pessoas. Mas se pensarmos com cautela nisso, qualquer pedreiro experiente, ainda que analfabeto, consegue construir uma casa sem a necessidade de um projeto estrutural. E, incrivelmente, obras que eles fazem não caem por cima das pessoas, como aconteceu no caso dos prédios feitos pela construtora do ex-deputado Sérgio Naya.
Da mesma forma, boa parte dos hipocondríacos seria capaz de prescrever uma receita médica para si e para outros. Os mais afetados por essa doença costumam ler todo o tipo de bibliografia médica, de simpatias a livros técnicos, apenas para descobrirem uma nova doença em si. E o que dizer dos açougueiros? Não acredito que seja tarefa fácil e que não requeira técnica para se descarnar uma perna de um bovino em pedaços sempre com o mesmo formato. Muitos deles talvez tenham mais experiência em cortar carne do que a maioria dos cirurgiões, visto que os primeiros fazem isso diversas vezes por dia, enquanto os últimos operam dois ou três pacientes durante o mesmo período.
Para os advogados, então, imagino que não deva ser difícil ler códigos, interpretar leis e argumentar suas petições em cima delas. Qualquer estudante faz isso nos seus trabalhos acadêmicos. A única diferença é o conteúdo abordado.
Se pensarmos nas Ciências Sociais, não precisariam existir cientistas políticos, economistas ou sociólogos. Com um pouco de leitura e boa vontade, todos poderiam exercer funções nessas áreas e serem, muitas vezes, melhores do que detentores de diplomas específicos. Não é possível entender porque motivo ainda se exige diplomas em concursos públicos para atuar nisso.
Claro, isso foi apenas mera divagação. É óbvio que cada uma dessas profissões precisa de conhecimentos que vão muito além da prática. Mas a discussão aberta pelo STF é uma que permeia a academia desde sempre: o que é ou não é ciência? Além de defender algumas das profissões supracitadas, o magistrado comparou o jornalismo a profissões de cunho intelectual, que não necessitam de conhecimentos científicos para serem produzidos. Dentre elas, estão as atividades de músico, escritor e ator.
Vamos destrinchar apenas um pouco cada uma das atividades.
Um bom músico (considero aqui apenas critérios técnicos, não criativos) realmente não necessita sequer ler partituras. Jimi Hendrix não sabia fazê-lo e dizia que imaginava cores ao compor suas melodias. Todavia, a física está absurdamente presente nesta atividade. Ciência reconhecida como tal e presente nas mais diversas áreas do conhecimento, ela é a base para os estudos que fazem com que um fio de aço ressoe dentro de uma caixa de madeira e produza som. Em todas as faculdades de música, esses princípios são estudados e conhecidos pelos acadêmicos. Mesmo quem não freqüente um curso superior na área, mas vá a qualquer escola de música aprender a tocar, também terá noções sobre esses princípios.
Indo mais além nesse caso, há ainda a musicologia, que estuda a interação dos sons com o corpo humano. De acordo com a teoria das ondas, todas as partículas são formadas por vibrações em freqüências específicas e ritmadas. Por esse motivo, utiliza-se a música para provocar reações físicas nos corpos. Estudos já mostraram, por exemplo, que o uso de música clássica pode aumentar a produção de leite de vacas.
No caso dos escritores, não acredito ser totalmente possível escrever uma história, seja ela qual for, sem nenhum tipo de pesquisa. Independente do tema, todos costumam usar situações que vivenciaram ou então se aprofundaram durante horas de leitura sobre o assunto. Caso contrário, como passar adiante idéias e conceitos através da literatura? Sem contar que é necessário saber, no mínimo, formar frases para se tornar um escritor.
Já com as artes cênicas, infelizmente, vemos que a maior parte dos “atores” que aparecem na grande mídia, nos dias atuais, surgiram da exposição em reality shows, ou simplesmente pela beleza física. Mas isso não é de praxe no teatro. Boa parte dos artistas cursa oficinas durante anos e outros muitos também passam pela faculdade para aumentarem seus conhecimentos na área. Vale lembrar que esses atores que só possuem apena um bom aspecto físico e não pelo intelecto acabam se tornando personagens caricatos de si em programas de humor como o Pânico ou o CQC.
Outra comparação completamente estapafúrdia foi com a profissão de cozinheiro. Sim, um bom cozinheiro não necessita de diploma ou mesmo de registro profissional. Mas o magistrado esqueceu que a legislação específica dessa profissão exige que todos os que trabalham na área de alimentação passem por um curso de manipulação de alimentos, o qual é aplicado por membros da vigilância sanitária, gastrônomos formados na faculdade ou nutricionistas.
Por menores que sejam, todas as profissões necessitam de conhecimentos que extrapolam a simples atividade intelectual ou prática. Profissionalizar os setores é garantir que se abram as portas do conhecimento para todos. Acabar com isso significa retroceder e limitar o acesso das pessoas a um mundo muito mais amplo que o do empirismo, o das idéias.
E, para constar, apenas uma lembrança aos magistrados: todos os jornalistas formados realizaram pesquisas de conclusão de curso utilizando métodos científicos de análise. O fato de termos sido aprovados pelas faculdades não nos torna cientistas também? Algum deles pode responder o que ainda falta?
Um comentário:
Eu acho que precisa de diploma sim, é bom que as pessoas tenham um foco. Mas que se foda também, ainda farei uma faculdade que não é "preciso" mais. haehaeheauheau
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