21 de junho de 2009

O condenado

Não havia mais nada para ser dito. Meses e meses de espera e o ato fora consumado. Um flagrante indiscutível. Ele caminhava sem rumo em volta de si. Kafka ou Poe nunca imaginariam uma situação como esta. Seus pés flutuavam em um carpete sujo. As paredes revestidas de madeira davam um ar sóbrio ao local. Ele queria ajuda, porém, o homem era muito orgulhoso para isso.

Dois caras o acompanharam até a porta. Pensou ter ouvido alguém chamá-lo antes de sair. "Que se dane! Quem eles pensam que são? Será que pensam em alguma coisa? Só sei de mim. Agora sei com certeza. Sei tudo o que vai acontecer comigo. Mas não me assusto. Aceitarei o que aconteceu. Perdoarão-me pelos meus atos."

Ele continuou a dar seus passos, ainda acompanhado pelos homens. Pensou em sair correndo. Desistiu logo. Os homens o acompanharam até um carro preto. Colocaram-no lá dentro e sentaram-se na frente. O veículo saiu da inércia. Os 150 cavalos relinchavam alto. Logo não se veria mais o prédio em que outrora ele estava.

Seguiram dentro do carro por mais de duas horas. As luzes da cidade também ficaram para trás. O destino já estava traçado. Em poucas horas chegaria a sua vez. No banco da frente os homens riam alto e tiravam chacota do passageiro. Em momento algum ele pensou em revidar qualquer uma das ofensas que lhe eram dirigidas. Baixou a cabeça. Baixinho, pediu um cigarro. Ninguém deu a mínima. Resignou-se e não falou mais nada durante todo o trajeto.

No outro lado da cidade, três horas depois, aquele homem traído agora dormia calmamente. Ao seu lado, uma senhorita, 24 anos mais nova. Deitaram e rolaram por longos cinco minutos. Dormiram em seguida. Os pêlos do tornozelo dele grudaram na colcha de chenile.

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