Nesses dias, muitos de nós, profissionais da imprensa, temos nos dedicado a atacar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de acabar com a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Mas a culpa dessa decisão não está nos ministros mal-informados sobre o tema. Ela está em cada um de nós, profissionais, formados ou não.
Estou nessa área há pouco tempo. São apenas quatro anos e meio, contando o dia da minha primeira aula no curso de jornalismo, na Unisul. Mas desde esse dia, muitas questões acerca da profissão foram surgindo. Para as principais, acabei me formando sem saber a resposta. Só o que faço é correr atrás delas. Afinal, essa é a minha profissão.
Analisando a prática do jornalismo, percebi que boa parte dos que trabalham na imprensa não têm formação técnica. Dentre esses, a maioria sequer possui curso superior. Eles costumam trabalhar em áreas como diagramação, captura e edição de imagens e áudio e até revisão de textos. Quase todos “aprenderam fazendo”. Na própria faculdade que cursei, a maioria dos profissionais ainda não possuía curso superior completo.
Um deles era o editor de imagens Vitor Gnecco. Com quase 30 anos de experiência em edição de vídeo, ele tinha mais tempo de trabalho com jornalismo que a maioria dos professores do curso (à exceção do professor Laudelino Sardá, que fez matéria com o inventor da roda e do professor Elóy Simões, que fez a campanha publicitária do produto na época). A prática de Vítor remonta o tempo das ilhas de edição linear, onde poucos eram os recursos técnicos e muita era a criatividade para inventar novas linguagens no vídeo.
Quando as ilhas lineares do curso foram aposentadas, Vítor precisou se adaptar de vez às novas tecnologias e se adaptar totalmente aos programas de edição não-linear dos computadores disponíveis na universidade. No momento em que isso aconteceu, muitos de meus colegas reclamavam de editar seus vídeos com ele, pois o consideravam lento e nem sempre ele compreendia os anseios daqueles jovens que vinham com idéias às quais ele ainda não conseguia compreender completamente. A própria necessidade de entender essas linguagens o fez, então, sair da cadeira ao lado do professor de telejornalismo e sentar-se junto aos alunos. Passou a cursar a faculdade também.
Outra experiência que tive foi durante os três meses em que trabalhei de auxiliar de redação no Diário Catarinense. Dentre os serviços menores que incluíam carregar bobonas de 20 litros de água, dois andares rampa acima, até a redação, estavam também ajudar meus colegas de cargo a produzir diariamente duas colunas para o jornal, a de Serviço e o Obituário.
Dentre meus colegas, eu era o mais experiente no sentido de cursar a faculdade por mais tempo. Todos eram estudantes de jornalismo. Eles ainda estavam no segundo ano da faculdade e eu já me encaminhava ao último. Mas um deles já estava há quase um ano como auxiliar no jornal. Eu apenas tinha mais prática para escrever frases elaboradas, ele era mais rápido para levantar as informações, pois aprendera isso na lida diária da redação. Ali, com todas as ressalvas que possam existir ao jornal e à sua direção, conheci pessoas que trabalhavam, sobretudo, com paixão pela profissão. Diagramadores, fotógrafos, repórteres, editores, todos tinham um mesmo objetivo: colocar pelo menos 24 páginas de jornal nas casas e nas bancas do Estado.
Lá, vi que a realidade da faculdade, onde muitos técnicos não eram formados, existia também na prática. Tirando os repórteres e editores, quase todo o suporte editorial era feito por pessoas, teoricamente, não qualificadas. Na diagramação e na fotografia, por exemplo, boa parte dos profissionais possuía apenas o ensino médio completo. E, com um pouquinho de pesquisa sobre isso em outras redações, vi que era assim em todos os lugares.
Eis que um dia, numa das muitas tardes em que ficávamos perto da impressora esperando a próxima página sair para levarmos ao editor e ele liberá-la para o editor-chefe, um jornalista muito experiente, que também não tem formação até onde me consta, Mário Pereira, fez uma indagação. Ele estava comentando sobre a qualidade do nosso jornal, reclamando com a voz rouca e marcante dele e à certa altura perguntou a mim e aos outros dois auxiliares porque fazíamos jornalismo.
Nenhum dos três soube responder. Ficamos quietos, pois não sabíamos claramente a resposta. Então, ele argumentou mais um pouco: “Não entendo porque alguém quer ser jornalista. Nenhum de vocês vai mudar o mundo”. Não sei quanto aos outros, mas vi que aquilo foi feito em tom de provocação conosco. De que diabos adiantaria termos um diploma? O mundo vai parar se todos os jornais simplesmente não circularem amanhã? Duvido muito. Mesmo que haja um baque inicial pela manhã, no fim do dia todos terão comido, defecado, tomado banho, trabalhado. A vida vai continuar com ou sem a gente.
Numa outra situação, certa vez, fui escalado para ajudar numa matéria na rua. Era para fazer uma enquete sobre desemprego. Na volta, estava com o motorista – cujo nome não me recordo e peço desculpas se ele ler isso e lembrar-se de mim - no carro divagando sobre as agruras da profissão. Aí ele falou sobre como as torcidas dos times da Capital agiam quando suas equipes perdiam. “Muitas vezes eles saem nos xingando, batendo no carro. Acham que a gente, da imprensa, tem culpa porque os times deles são ruins”, reclamou.
“A gente da imprensa”. Essa expressão dita pelo motorista me fez questionar quem realmente é da imprensa ou não. Quem é jornalista e quem não é. Como observei anteriormente, boa parte dos profissionais realmente não têm qualquer formação. Nem em Comunicação Social, nem nada. Na maior parte dos casos, eles possuem o ensino médio completo apenas por mera exigência das empresas, para manterem um convívio mínimo entre os funcionários.
Saí daquele carro e voltei para a redação me perguntando o que é ser um jornalista? Seria a autoria do texto de uma matéria ou o conteúdo completo, partindo desde a concepção da pauta até a fotografia, diagramação ou edição de áudio e vídeo?
Desde então venho pensando na frase do motorista. Se eu estivesse numa cobertura com ele, isso acontecesse com o carro da empresa e, por ventura, eu não estivesse ainda dentro do veículo, sem dúvida eu utilizaria o relato do motorista como parte de minha matéria contando o comportamento da torcida. Logo, ele seria um co-autor dessa parte, pois o relato seria dele, que estava na equipe comigo.
O mesmo pensamento serve para os outros técnicos. A fotografia que fosse produzida por alguém não formado seria parte integrante do conjunto da matéria. O diagramador poderia ter a idéia de usar uma cor vermelha na letra do título para simbolizar a violência dos torcedores. Sem contar que ele é o responsável por definir o tamanho que o texto pode ocupar na página, visto que se o editor quiser enfiar 20 matérias naquele espaço, ainda dando destaque para essa, isso seria praticamente impossível.
Se fosse uma matéria em vídeo, o câmera seria o responsável por pensar na maioria dos planos de corte, controlar a iluminação das cenas e, na maior parte do tempo dirigiria sozinho o vídeo, visto que o repórter precisa se preocupar em observar o jogo, ver e anotar detalhes, chamar os jogadores e técnicos para darem entrevista. Na ilha de edição, uma imagem poderia não entrar ou aparecer em um tempo menor que a decupagem do jornalista editor de vídeo. O técnico poderia avaliar e também sugerir outras formas de edição, alternativas de efeitos na imagem. Ninguém o proíbe de fazer isso e quem o faz é estúpido. Haja vista que esse pequeno detalhe visto pelo técnico pode acabar fazendo toda a diferença no material final.
Isso não transforma também esses profissionais em autores? Na minha opinião, a partir do momento em que eles têm o poder de mexer numa linha ou num frame que seja do trabalho do repórter, eu considero que sim. Mas se são autores, porque eles não podem ser chamados de jornalistas? Não pode ser apenas o diploma que vá limitar isso a eles. Todos são partes integrantes de um conteúdo maior que é o produto que chega às nossas casas diariamente, seja pelo papel, pela internet ou pelas ondas da TV e do rádio.
Sendo assim, para ajudar esses profissionais, a decisão do STF veio em boa hora. Mas o problema é que a discussão real sobre a regulamentação não é apenas se devermos exigir o diploma ou não. O verdadeiro debate deve estar nos limites do que é ou não uma atividade jornalística. Portanto, a culpa dessa decisão está em nós, que sequer conseguimos definir isso ainda. Nós estamos defendendo apenas nossos cargos, com medo de perdermos o emprego para gente “desqualificada”. Mas fora do nosso mundinho acadêmico, há muito mais gente que escreve infinitamente melhor do que a maioria de nós.
Todavia, como para todas as profissões, também sou a favor da manutenção do diploma não apenas pelo fato de ter conseguido o meu recentemente e querer usá-lo para “exigir” minha vaga de jornalista. Mas também por acreditar no fato de que um profissional bem preparado pode dar novos rumos à sua profissão, pode criar novos parâmetros e paradigmas. E essa preparação pode e deve começar na faculdade de jornalismo. Sem contar que numa faculdade aprendemos, além da técnica, princípios éticos e noções de outras ciências sociais que permeiam o exercício do jornalismo. Não é à toa vermos tantos relatos de jornalistas não formados, como Moacir Pereira e Alberto Dines, defendendo a manutenção do diploma.
Mas o canudo não é tudo. É preciso ir além disso para ser um jornalista. Aliás, se só isso garantisse o bom jornalismo, deveríamos esquecer as lições dadas por quase todos os teóricos e dos grandes nomes da profissão que veneramos na academia, visto que poucos deles são formados em jornalismo. A maior parte vem da área de Letras, Filosofia, Sociologia e História, não do jornalismo acadêmico. Por isso também, ainda tenho essa dúvida quanto ao limite de nossas atividades. Porém, ampliar nosso olhar e entender que não estamos sozinhos nessa luta diária pela notícia de amanhã, pode ser um primeiro passo para podermos legalizar novamente nossa situação.
Acredito que para lutarmos ainda pela obrigação do diploma para se fazer jornalismo, precisamos primeiro estabelecer limites claros em nossa profissão. Por exemplo, se o operador de câmera recebe um registro de repórter cinematográfico, ele tem que cursar a faculdade também. Ou não. Mas isso nós só poderemos decidir em grandes assembléias com todos os profissionais se unindo definitivamente em torno do debate. Só assim, a luta valerá à pena. Caso contrário, que fique como está, pois nossa classe nunca foi unida mesmo. Basta lembrar de uma das primeiras lições de jornalismo: “se uma redação entrar em greve hoje, de algum jeito o jornal de amanhã estará nas bancas, pois alguém o fará”.
Estou nessa área há pouco tempo. São apenas quatro anos e meio, contando o dia da minha primeira aula no curso de jornalismo, na Unisul. Mas desde esse dia, muitas questões acerca da profissão foram surgindo. Para as principais, acabei me formando sem saber a resposta. Só o que faço é correr atrás delas. Afinal, essa é a minha profissão.
Analisando a prática do jornalismo, percebi que boa parte dos que trabalham na imprensa não têm formação técnica. Dentre esses, a maioria sequer possui curso superior. Eles costumam trabalhar em áreas como diagramação, captura e edição de imagens e áudio e até revisão de textos. Quase todos “aprenderam fazendo”. Na própria faculdade que cursei, a maioria dos profissionais ainda não possuía curso superior completo.
Um deles era o editor de imagens Vitor Gnecco. Com quase 30 anos de experiência em edição de vídeo, ele tinha mais tempo de trabalho com jornalismo que a maioria dos professores do curso (à exceção do professor Laudelino Sardá, que fez matéria com o inventor da roda e do professor Elóy Simões, que fez a campanha publicitária do produto na época). A prática de Vítor remonta o tempo das ilhas de edição linear, onde poucos eram os recursos técnicos e muita era a criatividade para inventar novas linguagens no vídeo.
Quando as ilhas lineares do curso foram aposentadas, Vítor precisou se adaptar de vez às novas tecnologias e se adaptar totalmente aos programas de edição não-linear dos computadores disponíveis na universidade. No momento em que isso aconteceu, muitos de meus colegas reclamavam de editar seus vídeos com ele, pois o consideravam lento e nem sempre ele compreendia os anseios daqueles jovens que vinham com idéias às quais ele ainda não conseguia compreender completamente. A própria necessidade de entender essas linguagens o fez, então, sair da cadeira ao lado do professor de telejornalismo e sentar-se junto aos alunos. Passou a cursar a faculdade também.
Outra experiência que tive foi durante os três meses em que trabalhei de auxiliar de redação no Diário Catarinense. Dentre os serviços menores que incluíam carregar bobonas de 20 litros de água, dois andares rampa acima, até a redação, estavam também ajudar meus colegas de cargo a produzir diariamente duas colunas para o jornal, a de Serviço e o Obituário.
Dentre meus colegas, eu era o mais experiente no sentido de cursar a faculdade por mais tempo. Todos eram estudantes de jornalismo. Eles ainda estavam no segundo ano da faculdade e eu já me encaminhava ao último. Mas um deles já estava há quase um ano como auxiliar no jornal. Eu apenas tinha mais prática para escrever frases elaboradas, ele era mais rápido para levantar as informações, pois aprendera isso na lida diária da redação. Ali, com todas as ressalvas que possam existir ao jornal e à sua direção, conheci pessoas que trabalhavam, sobretudo, com paixão pela profissão. Diagramadores, fotógrafos, repórteres, editores, todos tinham um mesmo objetivo: colocar pelo menos 24 páginas de jornal nas casas e nas bancas do Estado.
Lá, vi que a realidade da faculdade, onde muitos técnicos não eram formados, existia também na prática. Tirando os repórteres e editores, quase todo o suporte editorial era feito por pessoas, teoricamente, não qualificadas. Na diagramação e na fotografia, por exemplo, boa parte dos profissionais possuía apenas o ensino médio completo. E, com um pouquinho de pesquisa sobre isso em outras redações, vi que era assim em todos os lugares.
Eis que um dia, numa das muitas tardes em que ficávamos perto da impressora esperando a próxima página sair para levarmos ao editor e ele liberá-la para o editor-chefe, um jornalista muito experiente, que também não tem formação até onde me consta, Mário Pereira, fez uma indagação. Ele estava comentando sobre a qualidade do nosso jornal, reclamando com a voz rouca e marcante dele e à certa altura perguntou a mim e aos outros dois auxiliares porque fazíamos jornalismo.
Nenhum dos três soube responder. Ficamos quietos, pois não sabíamos claramente a resposta. Então, ele argumentou mais um pouco: “Não entendo porque alguém quer ser jornalista. Nenhum de vocês vai mudar o mundo”. Não sei quanto aos outros, mas vi que aquilo foi feito em tom de provocação conosco. De que diabos adiantaria termos um diploma? O mundo vai parar se todos os jornais simplesmente não circularem amanhã? Duvido muito. Mesmo que haja um baque inicial pela manhã, no fim do dia todos terão comido, defecado, tomado banho, trabalhado. A vida vai continuar com ou sem a gente.
Numa outra situação, certa vez, fui escalado para ajudar numa matéria na rua. Era para fazer uma enquete sobre desemprego. Na volta, estava com o motorista – cujo nome não me recordo e peço desculpas se ele ler isso e lembrar-se de mim - no carro divagando sobre as agruras da profissão. Aí ele falou sobre como as torcidas dos times da Capital agiam quando suas equipes perdiam. “Muitas vezes eles saem nos xingando, batendo no carro. Acham que a gente, da imprensa, tem culpa porque os times deles são ruins”, reclamou.
“A gente da imprensa”. Essa expressão dita pelo motorista me fez questionar quem realmente é da imprensa ou não. Quem é jornalista e quem não é. Como observei anteriormente, boa parte dos profissionais realmente não têm qualquer formação. Nem em Comunicação Social, nem nada. Na maior parte dos casos, eles possuem o ensino médio completo apenas por mera exigência das empresas, para manterem um convívio mínimo entre os funcionários.
Saí daquele carro e voltei para a redação me perguntando o que é ser um jornalista? Seria a autoria do texto de uma matéria ou o conteúdo completo, partindo desde a concepção da pauta até a fotografia, diagramação ou edição de áudio e vídeo?
Desde então venho pensando na frase do motorista. Se eu estivesse numa cobertura com ele, isso acontecesse com o carro da empresa e, por ventura, eu não estivesse ainda dentro do veículo, sem dúvida eu utilizaria o relato do motorista como parte de minha matéria contando o comportamento da torcida. Logo, ele seria um co-autor dessa parte, pois o relato seria dele, que estava na equipe comigo.
O mesmo pensamento serve para os outros técnicos. A fotografia que fosse produzida por alguém não formado seria parte integrante do conjunto da matéria. O diagramador poderia ter a idéia de usar uma cor vermelha na letra do título para simbolizar a violência dos torcedores. Sem contar que ele é o responsável por definir o tamanho que o texto pode ocupar na página, visto que se o editor quiser enfiar 20 matérias naquele espaço, ainda dando destaque para essa, isso seria praticamente impossível.
Se fosse uma matéria em vídeo, o câmera seria o responsável por pensar na maioria dos planos de corte, controlar a iluminação das cenas e, na maior parte do tempo dirigiria sozinho o vídeo, visto que o repórter precisa se preocupar em observar o jogo, ver e anotar detalhes, chamar os jogadores e técnicos para darem entrevista. Na ilha de edição, uma imagem poderia não entrar ou aparecer em um tempo menor que a decupagem do jornalista editor de vídeo. O técnico poderia avaliar e também sugerir outras formas de edição, alternativas de efeitos na imagem. Ninguém o proíbe de fazer isso e quem o faz é estúpido. Haja vista que esse pequeno detalhe visto pelo técnico pode acabar fazendo toda a diferença no material final.
Isso não transforma também esses profissionais em autores? Na minha opinião, a partir do momento em que eles têm o poder de mexer numa linha ou num frame que seja do trabalho do repórter, eu considero que sim. Mas se são autores, porque eles não podem ser chamados de jornalistas? Não pode ser apenas o diploma que vá limitar isso a eles. Todos são partes integrantes de um conteúdo maior que é o produto que chega às nossas casas diariamente, seja pelo papel, pela internet ou pelas ondas da TV e do rádio.
Sendo assim, para ajudar esses profissionais, a decisão do STF veio em boa hora. Mas o problema é que a discussão real sobre a regulamentação não é apenas se devermos exigir o diploma ou não. O verdadeiro debate deve estar nos limites do que é ou não uma atividade jornalística. Portanto, a culpa dessa decisão está em nós, que sequer conseguimos definir isso ainda. Nós estamos defendendo apenas nossos cargos, com medo de perdermos o emprego para gente “desqualificada”. Mas fora do nosso mundinho acadêmico, há muito mais gente que escreve infinitamente melhor do que a maioria de nós.
Todavia, como para todas as profissões, também sou a favor da manutenção do diploma não apenas pelo fato de ter conseguido o meu recentemente e querer usá-lo para “exigir” minha vaga de jornalista. Mas também por acreditar no fato de que um profissional bem preparado pode dar novos rumos à sua profissão, pode criar novos parâmetros e paradigmas. E essa preparação pode e deve começar na faculdade de jornalismo. Sem contar que numa faculdade aprendemos, além da técnica, princípios éticos e noções de outras ciências sociais que permeiam o exercício do jornalismo. Não é à toa vermos tantos relatos de jornalistas não formados, como Moacir Pereira e Alberto Dines, defendendo a manutenção do diploma.
Mas o canudo não é tudo. É preciso ir além disso para ser um jornalista. Aliás, se só isso garantisse o bom jornalismo, deveríamos esquecer as lições dadas por quase todos os teóricos e dos grandes nomes da profissão que veneramos na academia, visto que poucos deles são formados em jornalismo. A maior parte vem da área de Letras, Filosofia, Sociologia e História, não do jornalismo acadêmico. Por isso também, ainda tenho essa dúvida quanto ao limite de nossas atividades. Porém, ampliar nosso olhar e entender que não estamos sozinhos nessa luta diária pela notícia de amanhã, pode ser um primeiro passo para podermos legalizar novamente nossa situação.
Acredito que para lutarmos ainda pela obrigação do diploma para se fazer jornalismo, precisamos primeiro estabelecer limites claros em nossa profissão. Por exemplo, se o operador de câmera recebe um registro de repórter cinematográfico, ele tem que cursar a faculdade também. Ou não. Mas isso nós só poderemos decidir em grandes assembléias com todos os profissionais se unindo definitivamente em torno do debate. Só assim, a luta valerá à pena. Caso contrário, que fique como está, pois nossa classe nunca foi unida mesmo. Basta lembrar de uma das primeiras lições de jornalismo: “se uma redação entrar em greve hoje, de algum jeito o jornal de amanhã estará nas bancas, pois alguém o fará”.
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