1 de junho de 2007

Manifestação 31/5/07

Passa um pouco das seis e meia. O número de estudantes é bem maior do que na segunda-feira. Indo para o terminal vejo dois pelotões, um na esquina da Felipe Schmidt com Deodoro e outro entre o camelô e o mercado público, formando um corredor. Não passa dez minutos de minha chegada e o grupo parte em direção à praça XV. É preciso cuidado, pois o centro cheio de pms, portanto é complicado fugir por ali. Cantam, animados, na frente faixas com dizeres anti-tarifa. Sobem a Arcipreste Paiva, viram na Tenente Silveira, param por breve momento em frente a secretaria da fazenda. Adiante, caminham até a rua Álvaro de Carvalho, onde descem, passam pela Felipe e voltam ao terminal.
O novo destino é a Av. Mauro Ramos, há bom número de estudantes. Passam pela frente da Assembléia. Ali os pms formam um cordão, porém não há qualquer ação senão vaias. No prédio do Senac das janelas inúmeras cabecinhas espiam, enquanto os manifestantes cantam “vem pra luta vem, contra o aumento”. Acredito que a polícia não nos deixaria ocupar as duas pistas, mas a massa compacta de pessoas rapidamente ocupa a avenida inteira. Em todo o percurso duas filas de policiais cercam o movimento. Das janelas, pessoas olham, alguns acenam. “da janela não, a luta é no chão” é um dos bordões repetidos.
Chegando ao Banco Redondo o Choque se posiciona a fim de não descermos em direção à Beira-Mar. Viramos e descemos pela Altamiro Guimarães, o pelotão se posta um pouco à frente do Shopping. Não desço, fico no jardim de um prédio, onde tenho boa visão. Minutos de impasse, são lançadas as duas primeiras bombas da noite. Alguns estudantes retrocedem, outros ficam. Devem passar-se uns 15 min até que o grupo volta ao Banco Redondo. Muitos sentam, o grt está enfileirado junto com o choque, impedindo que se chegue à Beira-Mar. No entanto pms cercam também o acesso à rua Vitor Konder. Tudo fica novamente parado, numa espécie de joguinho para ver quem fica mais tempo. Mas uma hora os milicos cansam, e o pelotão entra em ação. Lançam bombas e caminham, expulsando quem ali estava.
Na correria vejo umas pessoas se abrigando na entrada de um prédio, o qual não recordo o nome. Não titubeio e entro também, estão todos agachados e em silêncio. Sinto um peso, alguém mais resolveu se esconder. Quando levantamos o choque já passou, a maioria – e eu também – passa por ele coas mãos levantadas e corre. Uns policiais falam “vão na paz”. Um jovem rebate, “na paz com se vocês jogam bombas?”. Na correria lixeiros e pontos são depredados.
Houve dispersão, entro na loja de conveniências do posto na esquina da Mauro com Crispim Mira. Compro uma água, jogo na cabeça e tomo. Aguardo, aos poucos começam a se agrupar na entrada da Hercílio Luz. Quando considerável número se faz presente, nova caminhada. Não vejo nenhum policial por perto, apenas umas motos adiante. Ali alguns jovens – dois com camisa da mancha azul – externos ao movimento chutam lixeiros. São vaiados e repreendidos por uma garota. Muros são pichados, a maioria com “2,40 não”.
Sobem a Anita Garibaldi, aparece outro grupinho que descia pela Saldanha Marinho. Na frente da câmara de vereadores temo algum quebra quebra, mas nada acontece. Olho para trás e surpreendo-me, a rua está tomada pelos estudantes – posteriormente ouvi estimativa de 3,5 mil. Surpreendo-me de novo, logo atrás vem duas fileiras do choque e muitos, muitos pms. Passamos pela Catedral, novamente Arcipreste Paiva, Paulo Fontes e chegamos ao terminal. Lá já estão um monte de pms, e aos poucos chegam mais. Tarde para voltar, o grupo tenta diminuir o ritmo. Os pms que vinham por trás lançam bombas de gás, deixando claro que nosso lugar é ali. Um quadrado de policiais nos cerca, não há para onde correr. Só resta sentar e esperar.
Vejo um bolinho de repórteres em volta do que penso ser o comandante da operação. Após breve conversa, um rapaz sai e explica as regras. Um passagem é aberta para quem quiser sair, e os que ficarem podem ficar ali. A primeira alternativa é vaiada, a segunda comemorada. Contudo, sem mais o que fazer, aos poucos o pessoal vai indo embora. Uma turma com berimbaus e atabaques, que jogava capoeira na avenida, é pressionada pelo pelotão, que avança. Não saem, tocam o bis e encerram a apresentação. Aos poucos retiram-se da pista. Agora a calçada do meio está tomada também por milicos. Numa correriazinha, acho que estão levando alguém. Corro para fotografar. Não dá cinco segundos e um pm baixo, de cabelo grisalho pede minha identificação.
Falo a mesma coisa de sempre, guardo a câmera e tiro a carteirinha da faculdade. Ele diz que tudo bem, mas se eu não tiver documento serei preso porque fotografei uma área de segurança (?). Quer pega-la, reluto mas entrego. Nisso vem um pm mais alto, - nenhum porta identificação - cabelo bem curto, dando esporro, que é para eu não fazer confusão, que devo respeitar o policial – Nisso minha carteirinha está no chão, não vi se caiu ou se um terceiro jogou. O grisalho junta e me devolve – que posso ser preso por desacato. Digo que ele é que está nervoso. Minha vontade é mandar o filho da puta tomar no cú. Tiro o chapéu e falo “sim senho”, numa reverência sarcástica. O primeiro fala que aquilo não vale nada e sai. Vou atrás e pergunto que tipo de identificação devo levar. Ele responde que eu estava numa área de segurança, por isso não poderia fotografar. Pergunto que porra é essa – não com esses termos. Ele ia começando a responder quando há novo rolinho. Me manda sair, volto para calçada do terminal.
A cavalaria foi embora, só ficou o cheiro de bosta dos cavalos. Há realmente muitos pms, que aos poucos se vão. Uma tropinha entra no terminal, de certo não sobrou lugar para eles no busão da polícia. As pistas são liberadas, 10h58 meu ônibus arranca.

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