27 de março de 2009

Sem ressentimentos. Foi o que pensei, tenho certeza que ela também, quando nos encontramos. Ambos arrumados, quase como quando saíamos. Meu terno preto contrasta com o tênis vermelho; que por sua vez contrasta com o mármore do piso. O vestido dela, sem alças, deixa à mostra as tatuagens nos ombros e costas.
- Como vai?
- Bem - responde ela, sorridente.
É engraçado como as coisas são. Agora, por exemplo, nos comportamos como se absolutamente nada tivesse acontecido , como se fossemos apenas amigos de infância, como se eu jamais tivesse elogiado seu sutiã estampado a cada vez que o tirava. O tipo de convivência que é fundamental à vida em sociedade.
- Pois é, estou morando no rio, só vim mesmo para o casamento.
- Pô, legal, quero ver se consigo uma vaga na folha, se bem que está cada vez mais difícil encontrar emprego para fotógrafo...
- Ah, posso ver se consigo alguma coisa, se quiseres. Conheço a editora da sucursal do rio.
Tudo parecia como antes, conversávamos, ríamos. Teriam os desentendimentos ficados para trás, agora que somos "crescidinhos"? Ocorre-me tentar algo, quiça pense ela isso também. A sala na qual estamos é ilumidada por um lustre de cristais; na bancada da janela as taças de syrah, o cinzeiro vazio. Há muito tempo não a sentia tão próxima, ao passo que igualmente pouco me abria quando encontrava-a. Um ano muda muita coisa.
Um desavisado entra na sala, nos percebe e sai rapidamente. Com certeza imaginou alguma coisa que não acontecia. E nos devolve ao mundo.
- Acho que vou lá embaixo pegar uma água.
- Claro - ela sorri.
Involuntariamente damo-nos as mãos.

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