O terno de lã na cadeira era o indicativo de que ele já chegara ao pequeno apartamento de quatro peças. O som do chuveiro confirmava. Susana então foi até a geladeira, abriu e pegou a jarra com água. Bebeu um copo rapidamente e encheu outro, que tomou devagar, com pequenos goles. Sentou-se em frente a televisão e esperou o namorado sair do banho. Eles haviam brigado, mas ela ainda tinha as chaves da casa. Foi lá para fazerem as pazes. Nestas noites frias é melhor dormir junto de alguém para se aquecer e deixar os sonhos dominarem a mente com mais facilidade.
A televisão de 20 polegadas, quase do tamanho da sala, mostrava o jornal local. Entre as notícias, ela se impressionou com o caso de um morador de rua que havia sido atropelado. O motorista fugiu, negando o socorro e o corpo ficou estendido na rua durante horas, até que pelo cheiro de podre alguém passando perto do cadáver percebeu que ele já não respirava mais e então chamou o rabecão.
O jornal terminou e nada do banho se acabar. Mas ela nem se deu conta. Era hora da novela, que ela não perdia nunca. Sabia toda a trama, melhor até que o autor. Não raro adivinhava as cenas vindouras, como se ela própria as tivesse escrito. O sofá de couro vagabundo, já soltando em parte, era desconfortável. Mas se a pendurassem pelo dedo mindinho do pé e a submetessem à tortura, isso não seria nada se comparado a perder um maldito capítulo do folhetim.
Aquele barulho da água caindo no banheiro ainda continuava. Depois que os créditos da novela subiram, Susana se deu conta do tempo decorrido desde que chegara ao apartamento. Será que Paulo a ouviu chegar e não queria sair para não deparar com a namorada? A última discussão havia sido feia. Começou com um motivo idiota: ele disse que ia comprar alianças para o casamento, mas o cartão de crédito estourou o limite depois da reserva feita no restaurante mais caro da cidade. Na verdade, ele havia mesmo comprado, mas quis fazer uma brincadeira com ela, que não quis saber e começou a brigar com o namorado. Eles discutiram no salão do restaurante lotado e ele esqueceu até de falar do anel guardado em seu bolso. Ela ainda não sabia de nada quando entrou no apartamento naquela noite.
Então, ela desligou a televisão e simulou sua saída, caminhando até a porta com passos firmes, abrindo-a e fechando-a. Depois, pisando como uma bailarina, voltou ao sofá moribundo, onde sentou-se na ponta e esperou a reação do namorado.
Passaram-se dois minutos e o chuveiro continuava ativo. Ela se assustou. Paulo deveria ter passado mal. Ela tentou abrir a porta. Susana era uma moça loira, de 1,60m, bem magrinha. Se fosse mais alta, provavelmente teria sido modelo, devido ao seu tipo físico. Em vão, ela tentou arrombar a porta. Bateu duas vezes o ombro contra a madeira. Quase quebrou, o ombro.
Desesperada, ligou para a polícia. Num ato de humanidade, o militar que a atendeu disse que nada poderia fazer, pois se ele estava passando mal, quem poderia socorrer Paulo seriam os bombeiros, não a polícia. Ele deu o número. Prontamente, ela ligou pedindo socorro. Depois de quase meia hora, uma ambulância aportou na entrada do condomínio. Um médico, um enfermeiro e o motorista subiram.
Com as mãos na cabeça e os olhos marejados, Susana os recebeu. Ela não conseguia pronunciar uma palavra. Estava em choque pela possível perda do namorado. Apesar das discussões, ela o amava e tinha a certeza de que o sentimento recíproco existia. Aos 25 anos, seria traumático perder o homem com o qual ela sonhava passar o resto de seus dias.
Quase cinco minutos depois, ela enfim balbuciou uma palavra: bbb-abbaa-banheei-rrooo. Apontando para o local onde poderia estar o seu amor, morto, os socorristas entenderam o que ela queria dizer. O motorista, então, tentou abrir a porta pela maçaneta. Obviamente, teve o mesmo resultado de Susana. Com um chute, ele arrombou a porta de madeira maciça.
Maciças também foram as gargalhadas dele e de seus colegas quando a porta enfim se abriu. Contrastavam demais com as lágrimas dos olhos de Susana. Dentro do banheiro, sentado no vaso sanitário, estava Paulo, completamente nu. Embaixo do chuveiro, havia uma mulher nua. Era Renata, melhor amiga de Susana. Ela soube da briga do casal na noite do dia anterior e foi visitar o namorado da amiga.
Enquanto na sala os olhos de Susana vertiam lágrimas de ódio pela cena que acabava de presenciar, no banheiro o diamante do anel que deveria ser para ela agora brilhava no dedo anelar da amiga.
A televisão de 20 polegadas, quase do tamanho da sala, mostrava o jornal local. Entre as notícias, ela se impressionou com o caso de um morador de rua que havia sido atropelado. O motorista fugiu, negando o socorro e o corpo ficou estendido na rua durante horas, até que pelo cheiro de podre alguém passando perto do cadáver percebeu que ele já não respirava mais e então chamou o rabecão.
O jornal terminou e nada do banho se acabar. Mas ela nem se deu conta. Era hora da novela, que ela não perdia nunca. Sabia toda a trama, melhor até que o autor. Não raro adivinhava as cenas vindouras, como se ela própria as tivesse escrito. O sofá de couro vagabundo, já soltando em parte, era desconfortável. Mas se a pendurassem pelo dedo mindinho do pé e a submetessem à tortura, isso não seria nada se comparado a perder um maldito capítulo do folhetim.
Aquele barulho da água caindo no banheiro ainda continuava. Depois que os créditos da novela subiram, Susana se deu conta do tempo decorrido desde que chegara ao apartamento. Será que Paulo a ouviu chegar e não queria sair para não deparar com a namorada? A última discussão havia sido feia. Começou com um motivo idiota: ele disse que ia comprar alianças para o casamento, mas o cartão de crédito estourou o limite depois da reserva feita no restaurante mais caro da cidade. Na verdade, ele havia mesmo comprado, mas quis fazer uma brincadeira com ela, que não quis saber e começou a brigar com o namorado. Eles discutiram no salão do restaurante lotado e ele esqueceu até de falar do anel guardado em seu bolso. Ela ainda não sabia de nada quando entrou no apartamento naquela noite.
Então, ela desligou a televisão e simulou sua saída, caminhando até a porta com passos firmes, abrindo-a e fechando-a. Depois, pisando como uma bailarina, voltou ao sofá moribundo, onde sentou-se na ponta e esperou a reação do namorado.
Passaram-se dois minutos e o chuveiro continuava ativo. Ela se assustou. Paulo deveria ter passado mal. Ela tentou abrir a porta. Susana era uma moça loira, de 1,60m, bem magrinha. Se fosse mais alta, provavelmente teria sido modelo, devido ao seu tipo físico. Em vão, ela tentou arrombar a porta. Bateu duas vezes o ombro contra a madeira. Quase quebrou, o ombro.
Desesperada, ligou para a polícia. Num ato de humanidade, o militar que a atendeu disse que nada poderia fazer, pois se ele estava passando mal, quem poderia socorrer Paulo seriam os bombeiros, não a polícia. Ele deu o número. Prontamente, ela ligou pedindo socorro. Depois de quase meia hora, uma ambulância aportou na entrada do condomínio. Um médico, um enfermeiro e o motorista subiram.
Com as mãos na cabeça e os olhos marejados, Susana os recebeu. Ela não conseguia pronunciar uma palavra. Estava em choque pela possível perda do namorado. Apesar das discussões, ela o amava e tinha a certeza de que o sentimento recíproco existia. Aos 25 anos, seria traumático perder o homem com o qual ela sonhava passar o resto de seus dias.
Quase cinco minutos depois, ela enfim balbuciou uma palavra: bbb-abbaa-banheei-rrooo. Apontando para o local onde poderia estar o seu amor, morto, os socorristas entenderam o que ela queria dizer. O motorista, então, tentou abrir a porta pela maçaneta. Obviamente, teve o mesmo resultado de Susana. Com um chute, ele arrombou a porta de madeira maciça.
Maciças também foram as gargalhadas dele e de seus colegas quando a porta enfim se abriu. Contrastavam demais com as lágrimas dos olhos de Susana. Dentro do banheiro, sentado no vaso sanitário, estava Paulo, completamente nu. Embaixo do chuveiro, havia uma mulher nua. Era Renata, melhor amiga de Susana. Ela soube da briga do casal na noite do dia anterior e foi visitar o namorado da amiga.
Enquanto na sala os olhos de Susana vertiam lágrimas de ódio pela cena que acabava de presenciar, no banheiro o diamante do anel que deveria ser para ela agora brilhava no dedo anelar da amiga.
2 comentários:
a man
mandava uma bala na cabeça da mulher.
ixi vestibular so pra atrapalhar minha vida
Situação complicada. mas se a historia terminou assim, ele nao a amava tanto como dizia...
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