23 de fevereiro de 2009




Minha câmera deve voltar do conserto nesta semana! =D

19 de fevereiro de 2009

Caminhavam juntos. Tenho certeza que não me viram passar. Graças a um capricho do acaso, pouco depois completo a distância que sempre ando, logo que faço a volta já os enxergo. Por um instante pensei vê-los de mãos dadas, porém é apenas um engano. Ela não passearia de mãos dadas com outro tão cedo, não aqui; não depois de tudo que passamos. Ele também trabalha no canal, já nos falamos algumas vezes em festas.

A parte de cima do biquíni é preta e branca, numa espécie de xadrez no qual os quadrados se misturam de forma desordenada. Provavelmente a de baixo também, contudo a canga preta enrolada esconde-a de olhares alheios. Era sempre assim, em todos esses anos ela nunca foi até a praia sem um short ou canga. Eu achava engraçado, provocava-a dizendo que com tantas garotas de corpos esculpidos pela academia durante o ano ninguém se preocuparia com ela. Claro que era mentira, para mim não havia nada mais belo que seu corpo magro e pele bastante clara; a frase logo abaixo do pescoço; a oriental tebori no tornozelo.
Daqui não consigo ver se em suas costas ainda estão as seis minúsculas marcas da única vez em que passou um laço. Fora inclusive num dia de festa da emissora, numa fábrica de confecções abandonada no bom retiro. Não lhe presenteei com aquela blusa pensando nisso, foi inclusive a menina da loja que sugeriu a peça com longo decote nas costas. O contraste entre o tecido negro, sua pele branca e a fita vermelha foi umas das composições mais belas que vi. Tudo perfeito, da entrada no táxi até o despertar do dia seguinte com ela debruçada na janela, envolvida pela fumaça, segurando a flûte vazia; a elegante blusa ainda no chão. Quiçá a melhor noite de minha vida.
Conversam animadamente, não acho que discutam pautas. Nunca foi com esse sujeito, deve estar contente agora. A maré está baixa, não tem sol – mesmo assim mantenho os óculos escuros. Há considerável movimento na praia, muitos jogam frescobol ou um jogo argentino similar à bocha. Não sei se quero encontrá-la, na verdade quero; todavia sei que não será bom para nenhum dos dois. Chegam ao hotel, vou mais devagar. É preferível deixar as coisas como estão. Lavam os pés e entram. De qualquer forma, ela está no 405.

18 de fevereiro de 2009

Depois do carnaval

Que apanhe do Rei Momo quem disser que nunca ouviu ou foi autor do fragmento de expressão “depois do carnaval”!

Daí vêm as variações [sim, vêm! Porque nesse blog a reforma ortográfica vai pular carnaval o ano inteiro!] a gosto: depois do carnaval, eu...

...resolvo!
...falo!
...faço!
...procuro emprego!
...começo a dieta!
...acordo mais cedo!
...pago a dívida vencida!

Ser humano tem coisa dessas de fingir para suportar o que é, vê, vive. Seis dias são um momento epifania razoável para dar conta desse recado e dividir o mundo dito real em antes e depois. Afinal, somos muitos, somos outros, somos tantos carnavais.

Só hoje, ouvi cinco vezes esse tipo de promessa e, então, decidi escrever pela primeira vez neste ano no Aspirantes. Talvez pela razão de ter minha inspiração seguido esse legado, com aviso de retorno somente "depois do carnaval".



Enquanto isso, há o que não espera por carnavais. E os sorrisos correm o risco de se irem com as máscaras.

16 de fevereiro de 2009

O som da década

Estava eu vagando pela internet hoje e me deparo com um fórum onde alguém perguntou: "Qual banda será lembrada quando se falar em música dos anos 2000?". Lógico que esse tópico me interessou e conferi algumas respostas. Como todos sabem, sou viciado em música, até quis ter uma banda de hard rock, mas nunca consegui. Então, comecei a pensar, em termos nacionais e internacionais, quem se destacou fazendo música nesta década.

Bom, comecei a gostar de música, de verdade (daqueles que sabem tudo sobre a banda), em meados de 1998. De lá para cá, fui aprender a tocar violão, me interessei por rock e hoje acho que entendo alguma coisa disso. O problema de estudar tudo isso é que fui me interessando pelo que era velho, para entender as origens da música que se faz atualmente. Por conseqüência, acabei não dando muita bola para o que ouvia, pois convenhamos que toda a obra do NX Zero é musicalmente, digamos, um pouco inferior à qualidade de qualquer música dos Beatles.

Mesmo assim, ouvi alguma coisa desses últimos anos, por mais que eu tentasse, não consegui me isolar dentro de uma bolha ouvindo Robert Johnson, Nirvana, João Gilberto, Led Zeppelin e outros. Até o ano passado, eu tinha MTV em casa e dava até para dizer que eu gostava um pouco ainda daquilo. Sendo assim, abri a biblioteca do meu Media Player e comecei a catar os sons dos anos 2000 que eu tenho aqui. Depois disso, puxei à memória coisas das quais li ou ouvi falar nos últimos tempos sobre a música contemporânea.

Em termos nacionais, percebi que boa parte do que poderei lembrar daqui a 10 anos estará na minha cabeça mais pelo tanto de coisas que li ou ouvi a respeito do que propriamente tenha escutado com atenção. Há quem diga que Los Hermanos possa ser o grande nome da década aqui no Brasil. Porém, ainda creio que faltou muita coisa aos barbudos que acabaram e agora pretendem voltar. Os caras eram alternativos, mas adoravam aparecer na MTV e na Globo. Nunca foi uma banda de atitude. Tive a oportunidade de assisti-los duas vezes: a primeira, no Planeta Atlântida de 2004, a segunda, no último show da banda em Florianópolis, no final de 2005.

O show no Planeta Atlântida foi, musicalmente, um dos melhores da noite, que ainda teria uma performance memorável do Sepultura (eu fui lá com a intenção de assistir justamente à banda mineira), contudo, o público que esperava sobretudo pelos shows mais animados de Skank, Jota Quest e CPM 22, pouco vibrou ao ver os barbudos no palco. Na verdade, para quem estava mais afastado da pouca muvuca próxima à banda, foi possível perceber muitas pessoas sentadas, descansando para aproveitar os shows que estavam por vir. Na segunda oportunidade, a noite era deles, mas quem, na minha opinião, roubou a cena foi a banda local Samambaia Sound Club, com uma performance muito superior à dos cariocas, que na última hora recusaram dividir o palco principal com as bandas daqui que abririam o show para eles, relegando os locais a um cantinho minúsculo no Lagoa Iate Clube.

Outro nome que vi, também nacional, citado nesse fórum, foi a banda Cansei de Ser Sexy. Sei que o Pedro adora, mas, sinceramente, acho uma cópia barata do rock alternativo feito por bandas como Elastica e até mesmo The Breeders, a qual à um clipe postado aqui no blog. Claro, a opinião é de alguém que ouviu uma única música deles, isso na época que tinha MTV e que odiou o som.

Já no campo internacional, a banda que foi citada como inesquecível para esta década foi o Coldplay. O grupo inglês também nunca foi dos meus preferidos, mas eu até os respeitava. Contudo, isso acabou quando soube da questão do plágio feito sobre uma música de Joe Satriani. Na minha opinião, o lendário guitarrista está com a razão. Meu destaque, porém, fica por conta de outra banda que ouço muito e realmente gosto: The White Stripes.

Eles sequer têm um baixista e a Meg White toca bateria como uma criança de seis anos. Mesmo assim, o som simples, com as guitarras distorcidas de Jack White conseguem me prender por muito tempo ouvindo o som. Às vezes, soa como algo mal feito, mas ainda assim eu gosto. Não sei porquê. Para mim, será a banda desta década que me lembrarei por muito tempo.

E para você, qual será o som que o fará lembrar desta década? Dê a sua opinião nos comentários.

P.S.: Ah, antes que falem, eu também lembrei que as duas maiores manifestações "musicais" do Brasil nesta década foram o funk carioca e o Calipso, mas meu bom senso resolveu retirá-los da discussão.

9 de fevereiro de 2009

na praia
O programa só começa às seis. Mesmo assim, cinco e meia o público já se amontoa em volta da área reservada à gravação do último MTV na Praia, em frente ao restaurante taikô, em jurerê. Produção escolhe participantes para os quadros do programa, algumas garotas seguram folhas com frases para amigos ou conhecidos. A maioria deve ter entre 14 e 17 anos, quiçá menos, não sou muito bom de idades.
A chegada da apresentadora Penélope (segurando um cachorro) anima os presentes. O “três minutos” anunciado pelo diretor indica que está prestes a começar a derradeira edição transmitida ao vivo das areias de Floripa. A todo tempo William e Lucas, da produção, andam para lá e para cá com as laudas do programa na mão, verificam qual o próximo quadro, puxam o participante, conferem se não há nada errado. Uma garota tem uma folha escrito “will, deixa eu chorar”, deve ser daquelas que não perdeu um programa. Além, três câmeras (um em cima de um tablado, alta, e duas móveis na areia) mais auxiliares, deve ter umas 15 pessoas na equipe. O que fica na câmera de cima é o mais velho, suponho ser o que mais tem a manha da captação de imagens.
E assim segue pela uma hora que dura o Na Praia. Os espectadores participam ativamente: torcem na eleição do vira-lata mais bonito do Brasil, gritam durante o summer disk – sobretudo quando aparece o Paramore. Durante os intervalos Pê se abriga abaixo duma tenda onde ficam algumas mesas de operação, pessoas da emissora; como uma moça de ascendência oriental que calça um all-star branco de couro e fuma em quantidade razoável, na minha concepção bonita, figurinista. Enquanto não voltam do break a molecada não para de chamar a apresentadora, que por sua vez se vira muito bem ao responder os que enchem um pouco além da conta.
O mais engraçado, porém, acontece quando Penélope encerra o programa. Um batalhão de infantes ameaça cercar a vj, até que Juliana, também da produção, grita “fotos façam fila atrás do taikô”. Em segundos todos saem correndo e somem da praia. Tal procedimento aconteceu nos quatro programas que acompanhei, e certamente todos os dias em que estiveram em Florianópolis, nas mais diversas localidades.
O local das fotos é um terreno no qual a MTV fez sua base – vale lembrar que praticamente toda grade foi aqui gravada. Ali tendas serviam de camarim e local de descanso entre as gravações. Entre outras onde Adnet e Quiabo batiam uma bolinha. Após tirar algumas fotos com a equipe toda do na praia e tradicionais cumprimentos recíprocos entre os envolvidos pelo trabalho realizado, Pê encontra seus fãs. Admito que, mesmo não estando na fila, sinto-me ligeiramente deslocado. Mais de 20 anos ali equivalia a terceira idade ou algo do gênero.
Um por um, ela tira foto com todos, igualmente sorridente com cada um. Se está cansada ou de saco cheio, disfarça bem. Muitos se enquadram no que convencionou chamar de emos. Quando algumas fichas são distribuídas, achei que acabaria em briga. Todos se empurram, imploram pela lembrança do programa. Os próprios Will e Lucas são também atração. Tiram fotos e, mesmo um pouco relutantes, dão autógrafos.
De um pai ouço o seguinte comentário: “então eu ofereci cinqüenta reais mais a fichinha que tu ganhou, mas a menina disse que não queria vender”, referindo-se às camisetas entregues a quem participava dos quadros. Outra menina comenta com a amiga: “ai, eu preciso de uma camisa, sabe o que é ser viciada em mtv, eu sou!”. Essa, porém, fala da camiseta usada pelo pessoal da emissora, com a logo do verão mtv 09. Ouvindo os mais emocionados pedidos, Will explica que esse modelo não está à disposição, orienta o pessoal a “garimpar com os manos da técnica”. Acho a cena meio surreal, esse fanatismo, a meninada se descabelando na fila para foto.
Quando os últimos da fila tiram a foto, Penélope encerra a sessão e vai para a van, ainda ouvindo chamados daqueles mais entusiasmados. Enquanto troco uma idéia com Will uns moleques se aproximam e dizem que vão até São Paulo atrás do mtv na rua. Melhor o povo do canal ir se mandar, antes que algum tenha a idéia de se esconder no caminhão de equipamento dentro dum praticável, penso. Indo-me embora, trato de colocar a camiseta que ganhei (modelo funcionário) dobrada em oito dentro do bolso. Afinal, do jeito que o pessoal estava, era capaz da turma da oitava série se juntar para me bater e roubá-la. Certo, não chega a tanto, mas é melhor prevenir.

5 de fevereiro de 2009

Um lapso

Era verão, dia 26 de janeiro. No final da tarde, as nuvens, que horas antes passavam esparsas, começavam a se juntar. Uma grande tempestade se formava. Fato comum naqueles dias. Durante toda a semana, chovera antes de anoitecer. Neste, porém, foi o primeiro em que ele se encontrava em casa.

Da janela da sala, começou a ver a movimentação no céu. Ainda eram seis horas da tarde e as luzes na rua começavam a se acender aos poucos. Morava no Centro. Lugar barulhento, sobretudo naquele horário. Era possível ver, da sacada do apartamento, o trânsito absolutamente congestionado; pessoas atravessando em meio aos carros parados nas filas, eventualmente alguns atropelamentos ou abalroamentos entre os veículos.

Como ele morava no segundo andar, acabava ouvindo os xingamentos que uns motoristas faziam aos outros ou aos pedestres e vice-versa. No início, achava aquilo engraçado, até o dia em que ouviu um homem falar uma obscenidade a uma senhora de 60 anos - que por sinal estava com a razão naquele momento – e como nunca havia ouvido falar naquela palavra antes, foi ao Google pesquisar o que significava e ficou horrorizado com o que viu. Na mesma hora, proibiu seus dois filhos de ficarem na sacada naquele horário.

Neste dia, especialmente, resolveu praticar a antiga diversão que deixara há alguns meses e sentou-se na sacada. O vento nordeste ainda soprava de leve, mas ao sul as nuvens negras já não estavam sozinhas. O som dos trovões, cada vez mais alto, já se misturava ao barulho frenético da cidade. As primeiras gotas começaram a cair.

Ele era casado há seis anos. Desde que conhecera a mulher, não olhara mais para outra. A data do dia que descrevemos aqui ficará marcada para sempre na sua vida. Ela aparentava ter pouco mais de 20 anos. Com um vestido preto que começava a cobrir o corpo dela alguns dedos acima do joelho, ela caminhava calmamente. Ele ainda não havia entendido porque seus olhos agora a fitavam, ela jamais imaginaria que havia alguém olhando, então num lance súbito, quase um espasmo, olhou para cima e o viu. Parou.

Ele sabia que amava sua mulher. Era o que seu coração lhe dizia há quase oito anos, quando se beijaram pela primeira vez. Só que agora algo não deixava que ele parasse de olhar. Ela era morena, olhos castanhos. Um clichê diria que seu corpo havia sido moldado por Deus, mas nem a perfeição Dele poderia atingir aquele nível. Os cabelos longos desciam até a metade de suas costas. Ela usava uma pulseira de ouro bastante fina, da qual, estando longe, ele só conseguiu ver o brilho.

Estaria apaixonado? Como, se ele jamais a vira antes? Amor à primeira vista não poderia ser. Nunca acreditou nisso. Antes que pudesse ter qualquer reação, ela se refez, como quem leva um susto e em alguns instantes retorna à realidade, e voltou a caminhar. Aquela imagem o paralisou

Eu estava na janela em frente ao apartamento dele. Vi tudo. Inclusive o momento em que ela entrou na portaria do meu prédio. Em alguns instantes subiu, bateu a porta do meu apartamento e, como se nada tivesse acontecido, disse:

- Meu amor! Quanta saudade! Não agüentava mais ficar longe de você. Eu te amo mais que a qualquer outro.

No outro apartamento, mesmo sem conseguir ouvir, vi a mesma cena acontecendo, enquanto a abraçava forte e esperava um beijo, do mesmo jeito que fazíamos todos os dias. Em seguida, a tempestade caiu com força e a única coisa que ouvíamos era o barulho da chuva.
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