(para ser lido num dia de chuva)
Há dias, o sol insistia em não aparecer. A chuva já havia umedecido todos os grãos de areia e os saleiros pareciam potes de água salobra. Com um tempo desses, ela não era a única a saber que a combinação perfeita seria um livro e um cobertor em frente à lareira. A maior parte de seus amigos com certeza estava a fazer o mesmo. E ela não resistiu. Chegou à estante e, apenas na sorte, tirou um livro qualquer.
Shakespeare, Romeu e Julieta. Um clássico. E por que não? Eram as palavras do mestre do século 17 que haveriam de embalar a tarde de tempo fechado. Diferente dos últimos dias, nesse, ainda não chovera. Apenas o frio persistia. Preparou um chá de limão e deitou envolta com as cobertas pesadas.
A história triste do casal mais famoso da literatura, naquele dia, a comoveu. Enfim, a chuva chegara. Não era forte, apenas uma garoa. Nem vento havia. Em meio ao enredo do livro, ela não conteve as lágrimas e uma delas caiu no mesmo instante em que uma gota de chuva bateu e grudou na vidraça.
Seriam apenas duas gotas: uma lágrima e uma de chuva. Água doce e salgada, separadas pela janela de vidro. Assim como o jovem Montecchio jamais poderia ficar junto à bela senhorita Capuleto, como a água e o óleo, as duas gotas permaneciam inertes em seus lugares.
Ela percebeu as duas gotas. Em sua mente imaginou um amor à primeira vista entre aquelas duas pequenas porções líqüidas. Poderia uma lágrima se apaixonar por uma gota de chuva? Ela observou as duas, atentamente. A janela, não poderia abrir, pois a gota de chuva se moveria e talvez sumisse. Mas ela podia controlar o criado-mudo, onde a lágrima ainda persistia sem evaporar.
Incrivelmente, a cada movimento que levava a lágrima mais próxima da janela, a gota de chuva também se movia. “Querem se encontrar”, pensou ela. Ao contrário do usual, ao se moverem, nem a lágrima e nem a gota d’água deixavam qualquer rastro nos centímetros que percorriam. Ela começou a achar que a brincadeira de outrora tinha se tornado algo sério.
Então, podem ter se apaixonado. Mas como aproximar a lágrima da chuva? Sim, numerosas canções e poemas já o fizeram. Entretanto, fisicamente a tarefa parecia impossível. Ela pensou bastante, mas não chegava a uma saída. Recolher as duas e colocar num mesmo recipiente poderia ser fatal para uma. E se a lágrima caísse no tapete ou a gota de chuva rolasse de vez pela janela? Queriam se unir, mas parecia impossível.
A distância entre a janela e o móvel tinha cerca de um metro. Além disso, o vidro impedia o contato com a gota d’água. Da mesma forma, o móvel de madeira poderia, em alguns segundos, absorver aquela lágrima, que insistia em permanecer sobre ele.
Ela arriscou. Lentamente, abriu a pesada janela de madeira. Cada milímetro erguido poderia ser fatal para aquela gotinha de chuva. Ela nunca abrira aquela vidraça com tanto cuidado. Em sua mente, os dois fragmentos líqüidos queriam realmente se encontrar. Romeu e Julieta tomaram conta de seus neurônios que, naquele momento, só queriam ajudar a que este possível “casal” se unisse.
A janela estava aberta, contudo ainda não era possível unir as gotas. Ela desistiu. Mas a brisa fria que entrava pela janela lhe era agradável. Resolveu deixá-la aberta. Deitou. Retomou a leitura. Caiu em si e percebeu que a brincadeira havia se tornado séria demais. Teria enlouquecido? Talvez não. Provavelmente, a magia das letras a hipnotizou por aqueles instantes. Esqueceu tudo e retomou sua vida. Os dias passariam e ela jamais lembraria daquele dia novamente.
Porém, ao seu lado, a física resolvia as coisas. Incrivelmente, as duas gotas começaram a evaporar ao mesmo tempo. Cada uma das moléculas, de uma gota e da outra, se misturavam lentamente com o ar. Se não era possível se encontrarem na “vida”, que assim seja na sua “morte”. Romeu e Julieta estavam juntos no éter. Ela só se deu conta quando terminou a última página do livro.
Há dias, o sol insistia em não aparecer. A chuva já havia umedecido todos os grãos de areia e os saleiros pareciam potes de água salobra. Com um tempo desses, ela não era a única a saber que a combinação perfeita seria um livro e um cobertor em frente à lareira. A maior parte de seus amigos com certeza estava a fazer o mesmo. E ela não resistiu. Chegou à estante e, apenas na sorte, tirou um livro qualquer.
Shakespeare, Romeu e Julieta. Um clássico. E por que não? Eram as palavras do mestre do século 17 que haveriam de embalar a tarde de tempo fechado. Diferente dos últimos dias, nesse, ainda não chovera. Apenas o frio persistia. Preparou um chá de limão e deitou envolta com as cobertas pesadas.
A história triste do casal mais famoso da literatura, naquele dia, a comoveu. Enfim, a chuva chegara. Não era forte, apenas uma garoa. Nem vento havia. Em meio ao enredo do livro, ela não conteve as lágrimas e uma delas caiu no mesmo instante em que uma gota de chuva bateu e grudou na vidraça.
Seriam apenas duas gotas: uma lágrima e uma de chuva. Água doce e salgada, separadas pela janela de vidro. Assim como o jovem Montecchio jamais poderia ficar junto à bela senhorita Capuleto, como a água e o óleo, as duas gotas permaneciam inertes em seus lugares.
Ela percebeu as duas gotas. Em sua mente imaginou um amor à primeira vista entre aquelas duas pequenas porções líqüidas. Poderia uma lágrima se apaixonar por uma gota de chuva? Ela observou as duas, atentamente. A janela, não poderia abrir, pois a gota de chuva se moveria e talvez sumisse. Mas ela podia controlar o criado-mudo, onde a lágrima ainda persistia sem evaporar.
Incrivelmente, a cada movimento que levava a lágrima mais próxima da janela, a gota de chuva também se movia. “Querem se encontrar”, pensou ela. Ao contrário do usual, ao se moverem, nem a lágrima e nem a gota d’água deixavam qualquer rastro nos centímetros que percorriam. Ela começou a achar que a brincadeira de outrora tinha se tornado algo sério.
Então, podem ter se apaixonado. Mas como aproximar a lágrima da chuva? Sim, numerosas canções e poemas já o fizeram. Entretanto, fisicamente a tarefa parecia impossível. Ela pensou bastante, mas não chegava a uma saída. Recolher as duas e colocar num mesmo recipiente poderia ser fatal para uma. E se a lágrima caísse no tapete ou a gota de chuva rolasse de vez pela janela? Queriam se unir, mas parecia impossível.
A distância entre a janela e o móvel tinha cerca de um metro. Além disso, o vidro impedia o contato com a gota d’água. Da mesma forma, o móvel de madeira poderia, em alguns segundos, absorver aquela lágrima, que insistia em permanecer sobre ele.
Ela arriscou. Lentamente, abriu a pesada janela de madeira. Cada milímetro erguido poderia ser fatal para aquela gotinha de chuva. Ela nunca abrira aquela vidraça com tanto cuidado. Em sua mente, os dois fragmentos líqüidos queriam realmente se encontrar. Romeu e Julieta tomaram conta de seus neurônios que, naquele momento, só queriam ajudar a que este possível “casal” se unisse.
A janela estava aberta, contudo ainda não era possível unir as gotas. Ela desistiu. Mas a brisa fria que entrava pela janela lhe era agradável. Resolveu deixá-la aberta. Deitou. Retomou a leitura. Caiu em si e percebeu que a brincadeira havia se tornado séria demais. Teria enlouquecido? Talvez não. Provavelmente, a magia das letras a hipnotizou por aqueles instantes. Esqueceu tudo e retomou sua vida. Os dias passariam e ela jamais lembraria daquele dia novamente.
Porém, ao seu lado, a física resolvia as coisas. Incrivelmente, as duas gotas começaram a evaporar ao mesmo tempo. Cada uma das moléculas, de uma gota e da outra, se misturavam lentamente com o ar. Se não era possível se encontrarem na “vida”, que assim seja na sua “morte”. Romeu e Julieta estavam juntos no éter. Ela só se deu conta quando terminou a última página do livro.
4 comentários:
Crônicas. São boas.
Adoro crônicas, adoro Romeu e Julieta e adorei as gotinhas =D
hoje que o sol volta pelo segundo dia como num milagre você me vem postar um texto que pede um dia de chuva pra ser lido???????? poooooo, samuka!! haha
brincadeirinha. já havia lido o texto e tecido comentários. bom! :)
Tô com a Li e não largo.
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