Imagine um escritório de uma multinacional. Executivos de terno e gravata, ambiente sóbrio, pessoas trabalhando concentradas em suas “ilhas”, como se estivessem em um universo paralelo. Todos só se conversam por e-mail ou em reuniões demoradas em salas abafadas, quando o ar-condicionado está com defeito. Agora, esqueça isso e pense em um maratonista. Ao ar-livre, correndo e se preocupando apenas em terminar a prova. À sua volta, apenas prédios, paisagens e pessoas. À primeira vista, são coisas completamente distintas, certo? Errado. Leia esta história e entenda o porquê.
Desde os seis anos de idade, José Roberto Barros pratica esportes. Só de judô, foram 20 anos, nos quais disputou diversos campeonatos, como jogos abertos em São Paulo, estado onde nasceu, e até uma seletiva para os jogos pan-americanos. Pouco depois de terminar o Ensino Médio, mudou-se para Florianópolis, onde cursou Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina. Formou-se aos 22 anos.
Porém, a correria da vida de um recém-formado o fez deixar um pouco os esportes em segundo plano. Dos 22 aos 32 anos, praticamente deixou de fazer atividades físicas. Em vez de pesos de halteres, carregou consigo 20 quilos a mais de massa corporal.
- Fiquei relaxado durante esse tempo. Só voltei a fazer exercícios depois de um problema no nervo ciático, em 2001, quando os médicos me proibiram de praticar qualquer atividade física – conta ele que teve que esperar o fim do tratamento para voltar às atividades.
Depois do problema, fazer exercícios apenas pela prática já não importavam. Ele percebeu que era necessário diminuir seu peso. Até o esporte a ser praticado mudou. Do judô, José Roberto foi às ruas, ou melhor, às corridas de rua. Com planejamento, decidiu participar da tradicional Corrida de São Silvestre, em 2002. Entrou em uma rígida rotina de treinamentos, correu e terminou a prova, que tem cerca de 15 km de extensão.
O gosto pelas corridas e o bom resultado dos treinamentos no que tange à sua forma física o fizeram planejar caminhos mais longos. Aumentou o ritmo de treinamento e, em 2004, correu a primeira maratona. De lá para cá, já foram cinco. No mês de novembro passado, correu a Maratona de Nova Iorque e terminou na 5300ª colocação no geral. Contudo, pela sua idade, 37 anos, correu na categoria mais forte, a mesma do vencedor, o brasileiro Marílson dos Santos. Dentre os corredores brasileiros, ele foi o 36º.
Só nessas provas, ele já percorreu quase 211 km. Seu objetivo é correr o equivalente a uma volta na linha do Equador, cerca de 45 mil km, até os 55 anos de idade. Segundo suas contas, ainda faltam 30 mil.
Mas para conseguir todos esses objetivos é necessário muito planejamento. Principalmente pelo fato de o professor conciliar a vida de casado, a de mestre em sala de aula, a de palestrante e, a de estudante – terminou o doutorado em engenharia de produção há poucos anos – e a de atleta. Tudo ao mesmo tempo, quase sem descanso. Para correr a Maratona de Nova Iorque, foram 1700 km percorridos ao longo deste ano. Isso significa, três pares de tênis, cada um custando cerca de R$ 500, e que duram por volta de 500 km cada um. Além disso, no ano passado teve uma lesão no quadril, que custou, além dos treinamentos, um tratamento com médico e fisioterapia. Em suas contas, cada quilômetro de corrida custa R$ 3.
Todos esses cálculos e metas são levados por ele à sala de aula, na universidade e nas palestras que profere em colégios de ensino médio, junto ao programa Unisul.Futuro, que o auxiliou com a parte de alimentação na corrida em Nova Iorque. Em seu computador, cada um dos treinamentos está guardado, com números que mostram desde a distância percorrida em cada dia até o gasto calórico e batimentos cardíacos em cada trecho.
Na Unisul Business School, José Roberto leciona a disciplina de Educação ao Ar-Livre. Nela, ele mostra aos alunos que o planejamento necessário para as atividades que propõe – como provas de mountain bike, por exemplo – não difere em quase nada do mesmo planejamento necessário para se gerenciar uma empresa. Segundo o professor, nessas atividades, os acadêmicos desenvolvem habilidades de relacionamento e gerenciamento que são fundamentais para o bom funcionamento de uma empresa.
O mesmo ocorre nas palestras da Unisul.Futuro. No programa direcionado a jovens em período de prestar o vestibular, José Roberto desmistifica a dificuldade da aprovação.
- Com a minha experiência nessas maratonas mostro que o difícil não é passar no vestibular. O problema é planejar como serão os estudos ao longo do ano e a preparação. Isso é o que difere aqueles que serão aprovados dos que não serão – avalia José Roberto.