29 de dezembro de 2008

Por um jornalismo mais rock n' roll



Django Reinhardt - Swing



Estamos no meio do porre das comemorações de final de ano...

Em breve, voltaremos com a programação normal.

Aguardem.

Novidades para 2009

23 de dezembro de 2008



22 de dezembro de 2008



ponte que vai pro continente
FLN

18 de dezembro de 2008

Após um intrincado semestre, finalmente volto à fotografia. Quase três meses, muita ocupação, poeira na lente. O dia ajuda, tem sol e o centro está movimentado. Com certeza acabo o filme de 36, apenas com 10 já batidas. Quase havia esquecido o prazer de andar a toa pela cidade, coa bolsa a tiracolo, o infindável trocar de lentes para cada instantêneo. Atenção a tudo, os detalhes que escondem boas fotos, os momentos que podem ser mais rápidos que o clic. Enquanto uns passam engravatados, cujas profissões devem ser mais "sérias" que a minha, apenas uma coisa me passa pela cabeça: ainda bem que sou fotógrafo.
Algumas já estão prontas na minha cabeça faz tempo. O prédio da secretaria na esquina da tenente silveira com deodoro; o enorme grafite na ponte. Finalmente no gravados no iso 200. Sim, acho que foi uma saída proveitosa. Amanhã pego o cd coas fotos escaneadas, espero que fique bom.

9 de dezembro de 2008

Estava mais tranqüilo. Ainda confuso, porém, até mais do que pretendia. Chegou em casa antes do normal, não sabia quem devia ter encontrado, dúvidas que procurava se distanciar a cada gole. Normal, sua vida seria assim dali para frente. Dizem que jornalistas fundamentalmente bebem e fumam em quantidades consideráveis. Precisava se ajustar a profissão. O computador tinha uma série de páginas abertas, as quais não olhava nenhuma direito. O cinzeiro vermelho comprado na tok&stock de são paulo aos poucos era tomado pelas cinzas. A garrafa de black label aberta três dias antes quase cheia. Não se acostumara com tal bebida. Ainda assim, vagarosamente saboreava ou quase engasgava com o destilado. Não importa.

Pensava no búfalo da noite, filme mexicano que vira no outro final de semana. Não estava com ela, mas seria bom. A película quiçá encaixava-se bem com o que passava, e tinha um quê da vitalidade dos jovens. Um triângulo amoroso entre dois melhores amigos e uma meninna que acaba se envolvendo com ambos. O protagonista, além dela, tem outra na qual se refugia, talvez numa mistura de incerteza e alívio.

"Podia muito bem participar dessa história", pensa. Os cortes em seus braços já não incomodavam tanto, apenas completavam seu estilo, pensava. Sentado no sofá olhava a perna, fechada com motivos orientais, nas orelhas apenas o espaço vazio pouco menor que uma tampa de garrafa de cerveja. Os pés descalços arrastados no sofá, chico cantando as vitrines, gostava da canção. Meias encardidas do dia exaustivo agora encostam-se na parede, à espera de quem as leva ao tanque.

Foi até a janela, acendeu outro cigarro. Ficava a olhar a rua por minutos inunterruptos, acometido por uma espécie de transe que apenas a janela do 11º causava. Por que não, não... esvaiam-se idéias sem conclusões lúcidas. Deu outro gole no uísque, tossiu. Foda-se. Tenta escrever, não consegue. Ela não lhe sai da cabeça, era o que mais queria. Queria sossego, aproveitar cada coisa a seu tempo. A chuva que começa lentamente a cair tranquiliza um pouco. Pensa em ligar, talvez tenha medo. Impossível adivinhar o que acontecerá, o que de certa forma piora as coisas. Se ao menos agisse de outra forma. Na verdade, pensa, apenas foge do que mais tem vontade. O que não faz o menor sentido, mas quem disse que as ações de cada um precisam de sentido? As suas tinham sentido enquanto representavam a realidade que vivia. Lembrava do filme, podia sim ser diferente.

Sentou à frente do computador, num misto de inspiração e fúria, alguma coisa útil sabia fazer, pelo menos isso. Não beberia no gargalo, embora quisesse apenas pela sensação de quebrar alguma convenção. Idiota, pensava, para que. Acendeu outro cigarro, lembrou da viagem, da carona, ela sequer passava por sua cabeça. As coisas mudam quando menos se espera. Calçou o vans slip-on vindo de madri, catou uma camiseta. Nem precisaria passar no posto para abastecer o carro.

8 de dezembro de 2008





Florianópolis

4 de dezembro de 2008

Esporte, saúde e administração

Imagine um escritório de uma multinacional. Executivos de terno e gravata, ambiente sóbrio, pessoas trabalhando concentradas em suas “ilhas”, como se estivessem em um universo paralelo. Todos só se conversam por e-mail ou em reuniões demoradas em salas abafadas, quando o ar-condicionado está com defeito. Agora, esqueça isso e pense em um maratonista. Ao ar-livre, correndo e se preocupando apenas em terminar a prova. À sua volta, apenas prédios, paisagens e pessoas. À primeira vista, são coisas completamente distintas, certo? Errado. Leia esta história e entenda o porquê.

Desde os seis anos de idade, José Roberto Barros pratica esportes. Só de judô, foram 20 anos, nos quais disputou diversos campeonatos, como jogos abertos em São Paulo, estado onde nasceu, e até uma seletiva para os jogos pan-americanos. Pouco depois de terminar o Ensino Médio, mudou-se para Florianópolis, onde cursou Engenharia Mecânica na Universidade Federal de Santa Catarina. Formou-se aos 22 anos.

Porém, a correria da vida de um recém-formado o fez deixar um pouco os esportes em segundo plano. Dos 22 aos 32 anos, praticamente deixou de fazer atividades físicas. Em vez de pesos de halteres, carregou consigo 20 quilos a mais de massa corporal.

- Fiquei relaxado durante esse tempo. Só voltei a fazer exercícios depois de um problema no nervo ciático, em 2001, quando os médicos me proibiram de praticar qualquer atividade física – conta ele que teve que esperar o fim do tratamento para voltar às atividades.

Depois do problema, fazer exercícios apenas pela prática já não importavam. Ele percebeu que era necessário diminuir seu peso. Até o esporte a ser praticado mudou. Do judô, José Roberto foi às ruas, ou melhor, às corridas de rua. Com planejamento, decidiu participar da tradicional Corrida de São Silvestre, em 2002. Entrou em uma rígida rotina de treinamentos, correu e terminou a prova, que tem cerca de 15 km de extensão.

O gosto pelas corridas e o bom resultado dos treinamentos no que tange à sua forma física o fizeram planejar caminhos mais longos. Aumentou o ritmo de treinamento e, em 2004, correu a primeira maratona. De lá para cá, já foram cinco. No mês de novembro passado, correu a Maratona de Nova Iorque e terminou na 5300ª colocação no geral. Contudo, pela sua idade, 37 anos, correu na categoria mais forte, a mesma do vencedor, o brasileiro Marílson dos Santos. Dentre os corredores brasileiros, ele foi o 36º.

Só nessas provas, ele já percorreu quase 211 km. Seu objetivo é correr o equivalente a uma volta na linha do Equador, cerca de 45 mil km, até os 55 anos de idade. Segundo suas contas, ainda faltam 30 mil.

Mas para conseguir todos esses objetivos é necessário muito planejamento. Principalmente pelo fato de o professor conciliar a vida de casado, a de mestre em sala de aula, a de palestrante e, a de estudante – terminou o doutorado em engenharia de produção há poucos anos – e a de atleta. Tudo ao mesmo tempo, quase sem descanso. Para correr a Maratona de Nova Iorque, foram 1700 km percorridos ao longo deste ano. Isso significa, três pares de tênis, cada um custando cerca de R$ 500, e que duram por volta de 500 km cada um. Além disso, no ano passado teve uma lesão no quadril, que custou, além dos treinamentos, um tratamento com médico e fisioterapia. Em suas contas, cada quilômetro de corrida custa R$ 3.

Todos esses cálculos e metas são levados por ele à sala de aula, na universidade e nas palestras que profere em colégios de ensino médio, junto ao programa Unisul.Futuro, que o auxiliou com a parte de alimentação na corrida em Nova Iorque. Em seu computador, cada um dos treinamentos está guardado, com números que mostram desde a distância percorrida em cada dia até o gasto calórico e batimentos cardíacos em cada trecho.

Na Unisul Business School, José Roberto leciona a disciplina de Educação ao Ar-Livre. Nela, ele mostra aos alunos que o planejamento necessário para as atividades que propõe – como provas de mountain bike, por exemplo – não difere em quase nada do mesmo planejamento necessário para se gerenciar uma empresa. Segundo o professor, nessas atividades, os acadêmicos desenvolvem habilidades de relacionamento e gerenciamento que são fundamentais para o bom funcionamento de uma empresa.

O mesmo ocorre nas palestras da Unisul.Futuro. No programa direcionado a jovens em período de prestar o vestibular, José Roberto desmistifica a dificuldade da aprovação.

- Com a minha experiência nessas maratonas mostro que o difícil não é passar no vestibular. O problema é planejar como serão os estudos ao longo do ano e a preparação. Isso é o que difere aqueles que serão aprovados dos que não serão – avalia José Roberto.

2 de dezembro de 2008

O restaurante estava mais cheio que o habitual, talvez por chegar quase meio dia e trinta, quando normalmente almoçava trinta minutos antes. Tudo bem, pouca fila. Não, o cheiro da comida não lhe chama atenção, seu olfato percebe algo muito mais sutil. Olha para os lados, para a porta, não a vê. Reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar. Pouco mais de dois meses, era normal que estivesse daquele jeito. Sua cabeça deveria estar pregando uma peça, além do mais perfumes não são exclusividade dela. Aquele, contudo, era sim exclusivo, embora só os dois soubessem.
Lembrava de cada passo, saíra cedo do pequeno hotel à rue pierre charron. Estava a alguns quarteirões da champs-elysèes, caminhava sem preocupações enquanto um manso sol aos poucos aparecia. Tiveram uma noite ótima, sempre achava que tê-la em seus braços era a melhor sensação do mundo, mas ali tudo parecia um pouco mais vibrante. A excepcional janta, sua pele clara coberta apenas pela camisa xadrez que sempre usava para dormir; o braço tatuado movendo-se furtivamente enquanto ela andava pelo quarto de paredes escuras e lustre majestoso. Mesmo o sabor do château lafite, degustado na varanda em um pequeno sofá verde-oliva centenário era melhor se junto ao dela.
Talvez fosse o ar da cidade, sempre ouvira histórias de paris. Encantava-se com a simplicidade e sensibilidade dos romances de truffaut, certamente ali os dois poderiam ser personagens de alguma de suas tramas. O comércio já estava aberto, pessoas para lá e para cá, às quais aquela paisagem era completamente trivial. Para ele não. Entrou em algumas lojas, pelo menos seu francês arrastado era bem compreendido. A loja de perfumes começou a ganhá-lo apenas pela vitrina, com antigas luminárias à óleo. Foi mais por curiosidade que adentrou, logo recepcionado por uma moça de pouco mais de 24 anos. Explicou que apenas conhecia a loja, que era brasileiro, que estava comemorando dois anos de namoro etc. A vendedora era de lens, estudava moda na capital. Também era-lhe muito atraente. Logo pegou um frasco de amostra, "é o que uso", borrifando duas sprayzadas nele.
Foi até uma estante, duma pequena caixa tirou um pequeno vidro azul, cujo formato lembrava a lâmina de uma faca; preso à tampa um L estilisado cravejado de pequenos brilhantes. "Comme un doux baiser intime et charnel...". Sua voz, seu cheiro, tudo naquele momento foi-lhe muito próximo, quiçá até demais. Não pensou, apenas pediu que ela fizesse um belo embrulho.
Saiu ainda um pouco entorpecido da loja, parou num dos cafés da famosa avenida e sentou na mesa da rua. Admirava o laço, o papel azulado, como se fosse uma obra de arte. Pediu um café com conhaque e canela, esticou as pernas e olhou o céu. Era um bom presente.

1 de dezembro de 2008

O encontro das águas

(para ser lido num dia de chuva)

Há dias, o sol insistia em não aparecer. A chuva já havia umedecido todos os grãos de areia e os saleiros pareciam potes de água salobra. Com um tempo desses, ela não era a única a saber que a combinação perfeita seria um livro e um cobertor em frente à lareira. A maior parte de seus amigos com certeza estava a fazer o mesmo. E ela não resistiu. Chegou à estante e, apenas na sorte, tirou um livro qualquer.

Shakespeare, Romeu e Julieta. Um clássico. E por que não? Eram as palavras do mestre do século 17 que haveriam de embalar a tarde de tempo fechado. Diferente dos últimos dias, nesse, ainda não chovera. Apenas o frio persistia. Preparou um chá de limão e deitou envolta com as cobertas pesadas.

A história triste do casal mais famoso da literatura, naquele dia, a comoveu. Enfim, a chuva chegara. Não era forte, apenas uma garoa. Nem vento havia. Em meio ao enredo do livro, ela não conteve as lágrimas e uma delas caiu no mesmo instante em que uma gota de chuva bateu e grudou na vidraça.

Seriam apenas duas gotas: uma lágrima e uma de chuva. Água doce e salgada, separadas pela janela de vidro. Assim como o jovem Montecchio jamais poderia ficar junto à bela senhorita Capuleto, como a água e o óleo, as duas gotas permaneciam inertes em seus lugares.

Ela percebeu as duas gotas. Em sua mente imaginou um amor à primeira vista entre aquelas duas pequenas porções líqüidas. Poderia uma lágrima se apaixonar por uma gota de chuva? Ela observou as duas, atentamente. A janela, não poderia abrir, pois a gota de chuva se moveria e talvez sumisse. Mas ela podia controlar o criado-mudo, onde a lágrima ainda persistia sem evaporar.

Incrivelmente, a cada movimento que levava a lágrima mais próxima da janela, a gota de chuva também se movia. “Querem se encontrar”, pensou ela. Ao contrário do usual, ao se moverem, nem a lágrima e nem a gota d’água deixavam qualquer rastro nos centímetros que percorriam. Ela começou a achar que a brincadeira de outrora tinha se tornado algo sério.

Então, podem ter se apaixonado. Mas como aproximar a lágrima da chuva? Sim, numerosas canções e poemas já o fizeram. Entretanto, fisicamente a tarefa parecia impossível. Ela pensou bastante, mas não chegava a uma saída. Recolher as duas e colocar num mesmo recipiente poderia ser fatal para uma. E se a lágrima caísse no tapete ou a gota de chuva rolasse de vez pela janela? Queriam se unir, mas parecia impossível.

A distância entre a janela e o móvel tinha cerca de um metro. Além disso, o vidro impedia o contato com a gota d’água. Da mesma forma, o móvel de madeira poderia, em alguns segundos, absorver aquela lágrima, que insistia em permanecer sobre ele.

Ela arriscou. Lentamente, abriu a pesada janela de madeira. Cada milímetro erguido poderia ser fatal para aquela gotinha de chuva. Ela nunca abrira aquela vidraça com tanto cuidado. Em sua mente, os dois fragmentos líqüidos queriam realmente se encontrar. Romeu e Julieta tomaram conta de seus neurônios que, naquele momento, só queriam ajudar a que este possível “casal” se unisse.

A janela estava aberta, contudo ainda não era possível unir as gotas. Ela desistiu. Mas a brisa fria que entrava pela janela lhe era agradável. Resolveu deixá-la aberta. Deitou. Retomou a leitura. Caiu em si e percebeu que a brincadeira havia se tornado séria demais. Teria enlouquecido? Talvez não. Provavelmente, a magia das letras a hipnotizou por aqueles instantes. Esqueceu tudo e retomou sua vida. Os dias passariam e ela jamais lembraria daquele dia novamente.

Porém, ao seu lado, a física resolvia as coisas. Incrivelmente, as duas gotas começaram a evaporar ao mesmo tempo. Cada uma das moléculas, de uma gota e da outra, se misturavam lentamente com o ar. Se não era possível se encontrarem na “vida”, que assim seja na sua “morte”. Romeu e Julieta estavam juntos no éter. Ela só se deu conta quando terminou a última página do livro.
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