7 de abril de 2008

a 7 de abril.

No dia do jornalista, uma crítica que pode soar como algo negativo, como uma súplica ou simplesmente as coisas como elas são.




Jornal-esmo

A caminho do meu mesmo destino de todos os dias, desviei meus passos para tomar um café. Os ponteiros do meu relógio acusavam um intervalo de cinco minutos que me possibilitaram tal ousadia. Eu mal sabia que tão pouco tempo seria mais do que o necessário. O meu dia inteiro estaria, a partir de então, sujeito a uma cadeia de devaneios inconformados.

Minha atenção centrou-se na banca de jornal do outro lado da rua enquanto eu ainda me permitia apreciar o perfume exalado da xícara; o café estava quente. Foi quando um mendigo entrou em cena. Sua condição não o tornava menos digno: sorridente, ele se propôs a ajudar um homem cujos papéis foram repentinamente levados pelo vento até a calçada próxima à banca. O cenário constituía-se, tudo de forma muito natural. O meu tempo teimava em não esperar e aproximava-se do limite.

O homem pobre pôs-se diante das capas dos jornais do dia. Estavam todos expostos na parede da banca, de forma a constituir uma diversidade dentro de uma mesmice. Salvo casos raros, as manchetes eram parecidas, as tragédias postas em letras desmedidas e a vida transformada em confusão. Logo me acometeu o pensamento o texto de um escritor que tenho como um de meus preferidos; por coincidência, levava-o em minha pasta para a aula a que assistiria dentro de alguns instantes. Diante do fortalecimento do jornalismo, Machado de Assis afirma essa prática sob uma perspectiva positiva no artigo O Jornal e o Livro. O autor escreve que o jornal é a liberdade, é o povo, é a consciência, é a esperança, é o trabalho, é a civilização.
Ora, de que maneira – perguntaram a mim os meus botões – uma vitrine de tristeza pode representar uma "reprodução diária do espírito do povo"? Por que um impresso dedica um espaço para descrever mortes e não faz o mesmo para noticiar nascimentos? É de se pensar. É o que me fez pensar.

Mas, voltando à cena da manhã ausente de brilho. O mendigo continuava parado, com o olhar fixo que pude perceber pela inclinação de sua cabeça, partilhando das informações de todas as capas ali dispostas. Imaginei-me, pois, na condição dele. O que moveria meu espírito ao perceber o mundo de forma tão negativa? Dizem estar estampada na entrada do prédio em que funciona o jornal New York Times (aquele dos colegas estadounidenses) a expressão
Bad News Good News. Quer dizer: más notícias são boas notícias. Isso explica a concepção difundida entre as redações espalhadas pelo mundo. É claro que não se podem negar as exceções, assim como não é preciso muito esforço para notar que o predomínio no cardápio de notícias de cada dia é de sangue, de ódio, de tragédias.

O sorriso do mendigo já não compunha sua expressão quando ele se voltou em minha direção. No balcão, o café já cumpria com sua função de afugentar meu sono e a xícara estava vazia. O relógio alertava para a escassez do tempo – os cinco minutos eram agora dez. Atravessei a rua. Reconheci verso de Vinicius: tristeza não tem fim, felicidade sim...
O assobio e o canto vinham do personagem dos dez minutos daquela minha manhã.
Arielli Secco

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