14 de setembro de 2007

A menina que seguiu a poesia



A manhã era chuvosa em Palhoça. O dia triste poderia servir como inspiração para as lágrimas que teimariam em cair alguns minutos depois do rosto dela, não fosse o motivo de tais gotas. Helen Francine veio até a Unisul para falar um pouco sobre a sua vida como jornalista e também sobre a experiência de mergulhar nas histórias do poeta catarinense Lindolf Bell. Histórias estas, que montam o livro “Quixote Catarinense”.

Helen nasceu em Lages, mas viveu a maior parte da sua vida em Balneário Camboriú. Suas paixões? As flores, a literatura e a cor lilás. E desde menina, a literatura já fazia parte de sua vida, inclusive trazendo influências para a pequena que marcariam toda a sua trajetória. Ela cita como uma dessas influências, a frase que leu “em algum lugar” e que não lembra o nome do autor: “Sem saber que era impossível, ele foi lá e fez”. As flores e a natureza em geral, também são fontes das quais a vida de Helen se nutre. Ela fala do hábito que adquiriu no curso de pós-graduação: abraçar árvores.

A conversa em vários momentos, torna-se um monólogo dela com os outros que estão na pequena sala com cheiro de mofo dentro da Unisul. Aliás, o cheiro se perde com a voz de Helen ao declamar poemas de Lindolf Bell já pelas 10h da manhã. Seus olhos se enchem de lágrimas quando ela se lembra de alguns momentos durante a produção do livro sobre o poeta. Muito antes de sequer imaginar a entrada na faculdade de jornalismo, os dois tiveram um único contato pessoal, que seria marcante para a então menina que ainda ensaiava suas primeiras letras no universo da poesia. Em 96, ouve um concurso no colégio onde ela estudava e Helen ficou com o primeiro lugar. Quem entregou o prêmio a ela foi justamente o poeta Bell que lhe disse no pé do ouvido: “segue o caminho da poesia”.

E a menina o fez. Continuou a escrever poemas. Não raro ela também os declamava em publico. Praças, reuniões com os amigos, até casamentos. Todos os lugares eram palcos para Helen mostrar o talento que estava começando a aflorar. Bell também era assim. Nos anos 60, ele fundou um movimento chamado de Catequese Poética, que consistia em levar a poesia até o público, onde quer que fosse.

Então um dia, veio a faculdade de jornalismo e lá a paixão por autores como Truman Capote, Tom Wolfe, Caco Barcellos e todos os autores que aderiam ao new journalism. A paixão foi quase tão instantânea quanto a que ela sempre cultivou pela poesia. Os textos sobre as mais variadas personalidades e lugares indicaram um caminho sem volta para a agora universitária Helen.

No entanto, a inspiração principal para escrever “Dom Quixote Catarinense” só viria no fim do curso. Helen fazia parte da recém inaugurada Academia de Letras de Balneário Camboriú, quando em uma das reuniões foi feita uma homenagem ao já falecido Lindolf Bell. Para receber a homenagem, a filha dele Rafaela Bell. Em seu discurso, Rafa – como a intimidade permitia a Helen assim se referir a filha do poeta – falou sobre as memórias que tinha do pai. Aquele discurso fez com que a estudante, a um ano da conclusão da faculdade de jornalismo, decidisse mudar os projetos que tinha em mente. Surgiu ali o embrião do que viria ser uma grande jornada em busca das histórias do velho poeta catarinense, quase esquecido pela literatura fora das fronteiras de SC.

Ela se emociona diversas vezes ao lembrar das coisas que aconteceram durante a produção do livro. Suas entrevistas, as aventuras em São Paulo, as dificuldades tanto financeiras quanto emocionais. Ela lembra que levou um ano para conseguir reunir e escrever as histórias sobre Lindolf Bell. Todas, divididas nos 24 capítulos que formaram o trabalho de conclusão de curso de Helen Francine.

Após o término da faculdade, Helen continuou a trabalhar na Rádio Univali, onde fez estágio durante o período acadêmico. Ela também é repórter da TV Mocinha de Balneário Camboriú. Ela diz que sempre busca trazer para suas matérias a poesia que sempre esteve presente na sua vida.

Um comentário:

Li...! disse...

É interessante notar a diferença na abordagem do mesmo tema...o meu texto pareceu ter um foco totalmente diferente. E isso tudo é possível sobre a mesma coisa.

Bom texto, Samuka! Eu fiquei acanhada em postar o meu...

Locations of visitors to this page