Esse foi para a revista FT, aula de planejamento gráfico II. Admito, não fui eu que fiz. Na verdade adaptei-o de uma revista, visto que tal trabalho visava apenas a montagem da revista, não o conteúdo em si. Em todo caso, a FT ficou perfeita, nada que não feche. Quanto ao texto, agora coloco-o aqui.
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As imagens produzidas por grandes fotógrafos - carinhosamente vistas enquanto matava alguma aula chata, aguardando o intervalo - pelo estudante de arquitetura sentado nas poltronas verdes da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP com certeza ajudaram a despertar o interesse pela fotografia. O livro era Image à la Sauvette, de Cartier-Bresson, e o leitor um dos maiores fotógrafos brasileiros, capaz de retratar o cotidiano das cidades como ninguém. Mas não as únicas.
As imagens produzidas por grandes fotógrafos - carinhosamente vistas enquanto matava alguma aula chata, aguardando o intervalo - pelo estudante de arquitetura sentado nas poltronas verdes da biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP com certeza ajudaram a despertar o interesse pela fotografia. O livro era Image à la Sauvette, de Cartier-Bresson, e o leitor um dos maiores fotógrafos brasileiros, capaz de retratar o cotidiano das cidades como ninguém. Mas não as únicas.
Desde cedo o então acadêmico de arquitetura gostava de ver boas imagens. Esperava ansiosamente pela chegada da revista Realidade, na qual podia admirar instantâneos de Cláudia Andajur e Maureen Bisilliat, nomes que fizeram história na publicação entre os anos 60 e 70. Tais imagens povoavam e pululavam na cabeça do, à época, aspirante a fotógrafo. Hoje, com 39 anos de estrada, viagens e prêmios, ele continua disposto a encontrar a cada momento o que pode ser a foto marcante, o instante decisivo.
Profissional autônomo dedica-se principalmente à fotografia de cidades, ruas e todo tipo de edificação e situação. “Cidades são geniais já que, de repente, você depara com uma coisa que nem pertence a paisagem fixa, é aquela situação momentânea, que surge nas pessoas que passam, em uma luz que só está existindo naquele momento” diz Cristiano Mascaro. O paulista de Catanduva gosta de comparar seu trabalho coa literatura: “A fotografia é normalmente situada no universo das artes plásticas, mas também tem um compromisso narrativo muito próximo ao da literatura, que é o compromisso de contar uma história, o de desfazer e refazer a realidade, conforme escreveu Antônio Cândido. Acho isso incrível, porque, na literatura, você conta a história com as suas palavras, e aquilo acaba tendo uma ênfase muito maior do que simplesmente a descrição da realidade. A fotografia tem toda essa maneira de mostrar a realidade de uma outra forma, filtrada pelo olhar”.
O início da carreira de Mascaro deu-se no fotojornalismo, estimulado por colegas descobriu o desejo de realizar reportagens fotográficas. Numa atitude certeira bateu à porta de Cláudia Andajur, que além de admirar fora jurada num concurso onde Mascaro dividiu o primeiro lugar com outros dois fotógrafos. Através de Cláudia Cristiano foi apresentado ao diretor de arte da revista Veja – que seria lançada naquele 1968. Quando foi contratado não havia sequer se formado na FAU, mas em poucos meses o arquiteto estava trabalhando para a revista. Até 73 fotografou para Veja, período no qual também estudou por cerca de dois anos em Paris. Na volta para o Brasil, em pleno regime militar, não acreditou numa carreira como fotógrafo de revista. “Surgiu a chance de voltar para universidade para coordenar o setor de recursos audiovisuais. Eu queria documentar a cidade e a arquitetura paulista” conta. Nessa nova passagem pela FAU, onde passou mais 14 anos, Cristiano concluiu mestrado e doutorado. Contudo, “isso tudo (o campo da pesquisa) não me fascinava, eu queria mesmo era fotografar e fazer reportagens.
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A premissa do fotojornalismo nunca o abandonou. “Considero que faço isso até hoje, porque o meu trabalho, apesar de ter caráter documental, não deixa de ser uma reportagem”. O gosto e a atração pela temática da urbe vieram da infância. Nas andanças pela cidade de São Paulo – indo à escola, casa de amigos ou ao cinema ver filmes em P&B – os prédios o impressionavam. Sempre atento aos arredores, o trajeto favorito era pela Avenida São João, com suas construções de todo tipo.
As fotos de cidades começaram ao fotografar a capital paulista na década de 80, quando fazia relatórios anuais para um banco. Tal função levou-o a outras cidades, bem como nos tempos de Veja. Trabalhos encomendados também ajudaram o fotógrafo a conhecer diversos lugares do país. Em 1998 clicou 28 centros históricos para o Projeto Monumenta, entre eles os de cidades pequeninas. Em seguida veio O Patrimônio Consumido, no qual fotografou os cem edifícios mais significativos para a arquitetura brasileira – trabalho efetuado em apenas cinco meses.
Cristiano acha que um dia trabalhará com equipamento digital, todavia não sabe quando esse momento chegará. Só o usa quando clica com sua digital compacta, usada como “bloco de notas”. “Estou esperando as coisas rolarem mais. Evidente que tenho a maior curiosidade, que vou ter de trabalhar com o digital; mas, enquanto existir o filme, vou tocando com ele”, afirma, realçando a segurança dos negativos: “Morro de medo de medo das minhas fotos entrarem num buraco negro”. O equipamento, tradicionais Nikon e a clássica Leica, série R.
Com simplicidade, fala do futuro: “Vou tocando minha carreira assim, tenho mais uns 20 anos de fotografia aí pela frente, e é assim que vou levando, não posso parar de trabalhar”. Ainda bem.
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