14 de junho de 2011

Não mais faria aquelas coisas. Seu reflexo na caneca de café não mostra muita coisa, mas ele sabe o que sente, talvez não devesse ter agido como sempre. Senta-se à mesa, olha as garrafas vazias, alguns copos derramados, o chão imundo. Sua cabeça gira tentando entender o que se passara, mas sua memória recente indiscutivelmente não ajudará. O amargo do café é mais suave do que sua vontade de ter feito tudo diferente.

***

Tomam um pouco de uísque enquanto os amigos não chegam. Na poltrona, ela sentada sobre seu colo, segurando o copo sem gelo. Ao lado, no chão, sobre um carpete vermelho, a garrafa é quase vazia. Quando a campainha toca, riem e pensam antes de abrir a porta. Ele percebe que ela quiçá tenha passado um pouco da conta, mas fazia tempo que não se divertiam tanto. Levanta, deixa-a sentada na poltrona de veludo e caminha lentamente até a porta; hoje tudo correria normalmente.


Os três reclamam da demora, trajam pesados casacos contra o forte vento que cai. “Tiveram sorte que não choveu ainda. Roberta não vem?” diz enquanto os convidados comemoram a entrada num ambiente quente. “Não, tem prova amanhã, achou melhor ficar estudando”; os dois rapazes e a moça vão até a cozinha enquanto carl chama a namorada. “O pessoal chegou, vamos descer?” pergunta puxando-a. Ela puxa-o de volta, “não”, beijando-o. Carl impede que tire sua camisa, “vamos, vamos”. A muito custo ela veste a blusa e vão para a cozinha.


Sobre a mesa garrafas de cerveja, uma vodca, uma tequila. Alguém pega frutas e começa a degustação de coquetéis, que dura apenas uns três copos. Após vira entornação, e ninguém perceberia a diferença entre um blue label ou um drurys. Logo as coisas não estarão sob seu completo domínio.

12 de junho de 2011

5 de junho de 2011

terra de contrastes

Almoço de domingo, provo um arroz temperado com frango feito por minha anfitriã. Ela diz que é um pouquinho temperado. É um prato muito gostoso, mas preciso tomar uns quatro pints para rebater a pimenta. Enquanto como ela pergunta sobre o que estou achando de Londres. Respondo que estou gostando muito da cidade, muitos lugares, muitas pessoas. Ela começa então a me contar um pouco sobre sua vivência aqui. Não gosta muito da cidade, pois acha as pessoas muito frias. Esteve em nova York e achou-a melhor, pois as pessoas são mais receptivas.


Pergunto se a cidade estadunidense não é como aqui, e ela cita uma diferença significativa. Lá, a cidade foi formada pelos imigrantes, todos então sentem-se locais, ao passo que a capital britânica sempre teve seus habitantes e apenas foi recebendo levas de imigrantes. Ou seja, você nunca deixará de ser um estrangeiro, e eles fazem questão de deixar isto claro. Pelo que ela conta, o sistema aqui é baseado nesta balança de imigrantes/locais, pois os trabalhos mais simples nunca são feitos por um inglês. De fato as milhares de lojinhas que estão em todas as ruas são tocadas por indianos, os motoristas de ônibus, atendentes de supermercado... raramente é dada oportunidade a uma ocupação melhor. Ao passo que não há inglês servindo lanche no pret-a-mange, porém, segundo ela, muito mais oportunidades de carreira serão oferecidas. Diferente de nova York, aonde africanos, asiáticos, italianos, todos tem chances de alçar uma carreira de sucesso.


Quando falo sobre os indianos, ela diz serem um caso a parte. A Índia foi colonizado por ingleses, e os primeiros indianos começaram a vir para cá nos anos 60. Foram eles que escavaram e construíram o famoso metrô londrino, os grandes prédios comerciais. Muitos são descendentes, cidadãos ingleses. Ela compara a uma via de mão dupla; muitos dos vindos das ex-colônias, tão exploradas e saqueadas nos séculos passados vem agora buscar sua chance de vida. Ela reconhece vários pontos positivos do sistema inglês, como sistema de saúde gratuito, ajuda aos desempregados. Porém isto acabou gerando uma margem na qual milhares de pessoas vivem às custas governo. O que não é nada certo, ela afirma; mas uma vez abertas as portas para imigração, não se pode distinguir quem vem para trabalhar ou para aproveitar.


A conversa termina com um “oh God, preciso organizar as coisas”. Termino o arroz com frango e mais uns três copos de água.

1 de junho de 2011

A final e o futebol

Muita gente. É a primeira coisa que se pensa ao chegar no estádio de Wembley, palco da final da liga dos campeões 10-11. O jogo entre Barcelona e Manchester United será transmitido ao vivo para centenas de países e, possivelmente, é o evento esportivo mais esperado após a final da copa do mundo. A partida marca também o duelo entre o futebol alegre e ofensivo do barça, comandado por Messi e Cia, contra a retranca inglesa do Manchester.


O belo estádio está decorado com inúmeros emblemas da Uefa, da final e dos clubes. Nas redondezas existem banquinhas aonde podem ser adquiridas camisetas (dos clubes e do torneio), guia oficial, cachecóis, bonés, bandeiras. Compro um cachecol, de um lado os nomes e emblemas dos finalistas, do outro dizeres da final, data e estádio. Os preços variam: uma camisa oficial por exemplo sai por 50 libras. O boné 20, cachecol de 15 ou 20, o guia 10. Isto dá oportunidade de todos adquirirem alguma lembrança, e a preferida sem dúvida é o adereço para o pescoço, em diversos modelos. Outros espaços reproduzem vestiários, para quem quizer tirar uma foto, painéis coa altura dos jogadores, e lanches. Ou seja, tudo é pensado para gerar receita e entreter o torcedor. Quem entra no estádio é bem tratado, são várias entradas (nas minhas contas 14), cada uma com umas 10 catracas. Com isto as filas são bem reduzidas.


Caminhar por ali faz-me pensar como estamos atrasados futebolisticamente falando. E, não refiro-me aqui a construir estádios megalomaníacos com rios de dinheiro público. Falta, aos nossos cartolas e poder público, entender que futebol pode ser altamente lucrativo. Contudo, é preciso respeitar o torcedor. Aqui cheguei ao estádio rapidamente, de ônibus. Na Ressacada, no mínimo tenho de sair de casa duas horas antes do jogo. Lembrei das notícias sobre confusões para venda de ingressos nas finais de Libertadores, a organização pífia de nossos estádios. Sobretudo, como seria bom se agora estivesse jogando meu time, com toda essa estrutura. Enfim...


Circulam pessoas do mundo todo, e muitos vestem camisas de seus países ou clubes. Do Brasil, vejo palmeiras, flamengo, atlético-mg, fluminense entre outros. Há também argentinos, portugueses e muitos, muitos mexicanos. Para eles o jovem atacante Chicharito Hernández é um ídolo nacional. Torcedores de ambos times caminham lado a lado sem problemas – e o esquema de segurança é fortíssimo. Ouço várias sirenes, porém não vejo qualquer indício de tumulto. Muito lixo é jogado no chão, todavia garis andam para lá e para cá com “pinças” para juntar o que é indevidamente largado. A provocação, porém, é inevitável, e os ingleses chacoteiam bastante os espanhóis.


Há uma certa diferença entra os fans e os inchas. Estes trazem bandeiras da Catalunha, cartazes em seu dialeto; há várias e belas catalãs; em sua maioria são tranqüilos. Aqueles em sua maioria vestem apenas camisetas, alguns também cachecol. Nos bares em volta o estereótipo dos hooligans, rapazes carecas, quase rosados, que cinco horas antes da partida estão bebendo e gritando cantos. Impressiona a quantidade de cerveja que ingerem, e mais ainda como conseguem ficar de pé até o inicio do jogo. Como bom brasileiro, achava que em meu país os torcedores eram os mais fanáticos, depois dos argentinos. Quiçá esteja enganado. De qualquer forma, acho que os ingleses tem uma forma diferente de torcer.


Faltando 20 minutos para o pontapé inicial, avisos são transmitidos pelo alto falante em inglês e espanhol alertando o publico para tomarem seus lugares. Um deles também sobre a proibição de fumar no interior de Wembley. Às 7:45 são poucos que, como eu, ainda perambulam. Minha idéia era assistir o embate em algum bar ali perto, mas para meu espanto todos estão fechados. Sou obrigado a tomar um ônibus e saltar em frente ao bar ox and gate. Ali, num autêntico pub inglês, presencio o baile azul-grená. No gol de Messi meio bar levanta; claro, secar o adversário é atividade universal.


Vou-me ouvindo a algazarra dos rivais do Manchester – ali ninguém era de fato torcedor do Barça. E feliz, pela vitória do futebol bonito e por estar em plena final do maior torneio de clubes do planeta.

***

FICHA TÉCNICA

BARCELONA 3 x 1 MANCHESTER UNITED

Local: Estádio de Wembley, em Londres (Inglaterra)

Data: 28 de maio de 2011, sábado

Horário: 15h45 (horário de Brasília)

Público: 87.695 presentes

Árbitro: Viktor Kassai (Hungria)

Assistentes: Gabor Eros e Gyorgy Ring (ambos da Hungria) Cartões amarelos: Daniel Alves e Valdés (Barcelona); Carrick e Valencia (Manchester United)

GOLS:

BARCELONA: Pedro, aos 27 minutos do primeiro tempo

MANCHESTER UNITED: Rooney, aos 33 minutos do primeiro tempo; Messi, aos nove, e Villa, aos 24 minutos do segundo tempo

BARCELONA: Valdés; Daniel Alves (Puyol), Piqué, Mascherano e Abidal; Busquets, Xavi e Iniesta; Pedro (Afellay), Messi e David Villa (Keita)

Técnico: Pep Guardiola

MANCHESTER UNITED: Van der Sar; Fábio (Nani), Vidic, Ferdinand e Evra; Carrick (Scholes), Park Ji-Sung, Giggs e Valencia; Rooney e Chicharito

Técnico: Alex Ferguson

31 de dezembro de 2010

Acabou-se o ano.

23 de dezembro de 2010

Coluna Ponto Final, por Carlos Damião - jornal Notícias do Dia


Pedro Mox/Divulgação/ND
Descaso

Poder. Trânsito de carros-fortes no calçadão impressiona a cidadania

Absurdo

O jornalista Pedro Mox não se espantou com a imagem que publicamos aqui, ontem, mostrando um carro-forte em meio à multidão, no calçadão da rua Conselheiro Mafra. Tanto que enviou essa outra foto, muito mais intrigante: três desses veículos empoleirados. Ele questiona a tolerância a esse tipo de procedimento em Florianópolis, já que em outras grandes cidades isso não é permitido.

‘Laissez-faire’

Ainda do jornalista Pedro Mox sobre a desordem urbana em Florianópolis: “É uma espécie de ‘laissez-faire’ mané, onde, na ausência da autoridade municipal, qualquer um se julga no direito de ocupar o espaço público de acordo com sua conveniência. É assim com grandes lojas de departamentos, com caixas de som alugando o ouvido de todos, e com os carros-fortes”.

20 de dezembro de 2010

A Atlântida já foi uma rádio boa, na minha opinião. Eu escutava-a muito, quando estava no segundo grau, até no começo da faculdade se bobear. Tocava várias bandas que rock as quais curtia, brasileiras ou gringas. Por tabela, nunca gostei da jovem pan, que tinha uns eletrônicos muito chatos e as coisas que estavam na modinha: boys e girls bands, coisas do tipo. A Atlântida, contudo, mudou. E seu famoso festival, igualmente.


A primeira edição do planeta Atlântida, no verão de 1998, aconteceu no estacionamento da boate Ibiza, em Jurerê. Provavelmente era o maior lugar que a capital catarinense podia oferecer para um espetáculo de tal tamanho: seis atrações renomadas nacionalmente, mais duas locais. Aliás, esta é uma constante, com mais ou menos peso, sempre alguém representa a música local. Daqui, em 98, tocaram Bandit e Senti Firmeza. Também Lulu Santos, Jota Quest, Tim Maia (sendo seu último show completo), Gabriel O Pensador, Fernanda Abreu e Daniela Mercury.


Quiçá Senti Firmeza e Daniela Mercury destoassem um pouco da programação, porém o line-up era perfeitamente aceitável. Condizia com o que tocava na rádio. Nos anos seguintes passaram pela ilha da magia nomes de peso no cenário roqueiro brazuca: de Raimundos e Planet Hemp a Lulu Santos e Skank. Os primeiros, contudo, não tocariam hoje na rádio. E com estas mudanças, chegamos a 2011, cujos shows foram divulgados esta semana.Para pior. Não animam nem um pouco. Sertanejos universitários (seja lá o que isso seja), Luan Santanna e mais dois que nunca ouvi falar; coloridos Restart; o que sobrou do Charlie Brown Jr; Chimarruts; Jeito Moleque. Pouca coisa que anime alguém a sair de casa. Temo que o show do Monobloco lembre o Los Hermanos de 04. Nem Nando Reis ou Capital Inicial salvam. Felizmente a Ilha continua lembrada, Dazaranha e Iriê.


Temo que o caldo tenha começado a desandar no ano de 2006, quando Inimigos da HP e DJ Marlboro foram convidados. Nos anos seguintes apareceram Ivete Sangalo, Babado Novo, Victor e Léo. Que, convenhamos, nem com as mudanças na programação tocam no 100.9. Hoje, tal dial não ajuda muito os ouvidos – segue sim a cartilha dos sucessos momentâneos, dentro do que o mercado da música dite. Agrada a maioria, desagrada aos que não se encaixam ao padrão.


Já gravei várias fitas ouvindo rádio. Lá estão Lenny Kravitz, Legião Urbana, O Rappa, até Slipknot e Karnak. Se fosse gravar hoje, acho que a fita pegaria poeira por falta de uso.

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