30 de agosto de 2007

O cansaço me cabe, mas o sono não me toma. Longe de qualquer discurso melodramático ou de qualquer descrição exagerada, é este o estado em que me encontro. A insônia vem da angústia. Eis a cena que ecoa arrogância em minha memória recente:
A porta de um shopping, uma viatura de polícia, uma carroça carregada de restos urbanos e olhares desviados. Na entrada principal do shopping Iguatemi, a covardia despertou a atenção. Distraída pela conversa com uma amiga, demorei a perceber o rebuliço e não posso afirmar com convicção o que precedeu as ações. Surpreendi-me ao ver dois policiais, junto à parede, a agredirem, sem prudência alguma, um catador de papelão. Os socos e pontapés tinham como resposta o desespero de um homem algemado, ao chão, que suplicava por uma interrupção das agressões. Em frente à viatura (que manteve a sirene ligada o tempo inteiro, atraindo ainda mais a atenção dos passantes), parou um carro convencional, de onde desceu mais um homem uniformizado com os trajes da Polícia Militar. Durante dez minutos, pelo menos, a pancadaria não cessou. Os golpes eram dados com raiva, com fúria e impiedade. Um outro veículo, sem qualquer distinção que o identificasse como policial, parou no meio da rua e o motorista, fardado, desceu para participar da confusão.
Assumo a falta de informações sobre as atitudes do catador de papelão que ocasionaram a ação da polícia militar. Porém, acredito que a partir do momento em que um ser humano está algemado, sem possibilidade de qualquer resistência física, não existe necessidade de brutalidade. Aquele homem que foi espancado transita pelas ruas ao redor do shopping todos os dias com seu cavalo e a carroça, recolhendo o lixo reciclável. Como cidadã e futura jornalista, a cena a que assisti terminou o meu dia de forma indesejável. Fui infeliz no sentido de não ter corrido atrás de detalhes no momento. Eu saía do trabalho e não tinha nenhuma câmera comigo para fazer algum registro, além de todo o cansaço que eu carregava em meu corpo. Resta-me, por ora, apenas manifestar meu descontentamento e minha insatisfação para com essas pessoas que acreditamos serem capacitadas e devidamente treinadas para lidar com situações como a ocorrida.
Hoje tentarei descobrir alguma razão (se é que ela existe) para o fato. O post é um desabafo e o relato de um furo, antes de jornalístico, pessoal, pela falha e pelo alerta que isso tudo me significou.
Arielli Secco

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