Alemão no País do Big Brother
Era uma vez um rapaz de São Paulo, que entrou em um programa de televisão conhecido como Reality show. Lá dentro protagonizou uma “novela”. Conseguiu o amor de um siri, brigou com um cowboy, mostrou a bunda e outras coisas também, Tudo isso para levar o prêmio de 1 milhão de Reais. Enquanto ele lutava lá dentro para levar a bolada, milhares de pessoas em casa torciam pelo “mocinho” da novela. Só que diferentemente de uma novela onde toda a narrativa é construída a partir de fantasia, no tal de reality show, a narrativa é uma pérola da edição de imagens.
Para os que estiverem lendo e por ventura não souberem o que é uma edição de imagens, aí vai uma breve explicação. Talvez não seja a melhor, mas é o que dá pra fazer nestas poucas linhas que escrevo (se eu escrevesse mais que isso, ninguém iria ler além deste parágrafo). O processo de edição consiste em juntar horas e mais horas de material gravado em fitas, selecionar os trechos que são considerados mais importantes e então juntar isso para formar um material audiovisual. Este processo é usado tanto em cinema, quanto em telejornalismo, e também é usado na produção de programas como o Big Brother.
Alguém está lendo e pensando: “Por que você escreveu isso? Tá achando que eu sou idiota? Até parece que não sei o que é edição.” Entendo sua revolta, mas para seu governo, se é que alguém lê essa joça de blog, é bem capaz de haver uma pessoa que ainda não saiba o que é o processo de edição.
Bom, voltando ao processo de edição, vamos ao que realmente interessa sobre o que eu falei antes. Note o leitor que eu escrevi que as melhores imagens são usadas para produzir o material final. No caso do Big Brother, existem dezenas de câmeras que captam imagens dos participantes durante 24 horas por dia, 7 dias por semana. É muito material para caber em um programa de uma, no máximo duas horas. Pois bem, quem decide o que é ou não melhor para uma determinada cena ir ao ar, é justamente o editor e os diretores deste programa. O que lhes dá o direito de saber o que é mais importante? Absolutamente nada além do cargo.
Por ter sido vítima de um verdadeiro bombardeio de Big Brother na minha caixa de e-mails nos últimos meses, decidi que ao final da festa iria escrever algo sobre o programa baseado apenas na minha leitura sobre o tema, que seria feita no dia após o fim deste programa. Pois bem, eu a fiz e logo abaixo estarão os endereços dos sites que consultei para embasar este artigo.
Foi desta forma que eu escrevi o que você leu no primeiro parágrafo. Um breve resumo do que deve ter acontecido. Assim como meu resumo simplório, o processo de edição modifica todo contexto de um ocorrido de acordo com o desejo de quem comanda a máquina de edição. Dessa forma, a edição que houve da briga entre Alemão e os demais participantes e o desenrole dessa situação, segundo algumas fontes, com certeza conseguiram levar o cara do cabelo loiro até a bolada.
“Mas eu vejo o Big Brother na tv por assinatura, ali não tem edição”.Ledo engano caro leitor. Sinto informar-lhe que em momento algum você escolhe qual das várias câmeras vai mandar imagens pra sua telinha. No máximo você escolhe entre alguns ângulos pré-definidos por alguém que seleciona a imagem para você.
Resumindo, se você gastou dinheiro com telefone, perdeu tempo na Internet ou calejou seus dedinhos mandando mensagens pelo celular para dar o prêmio ao Alemão que apaixonado pelo Siri, apenas por causa do amor bizarro entre eles, ou por que ficou com pena deles terem sido separados pelo cowboy vilão, meu amigo, muito provavelmente você foi vítima da tal da edição. Ou você estava achando que naquela linda história existiam realmente mocinhos e bandidos? Sérgio Ripardo, editor da Folha On Line, descreveu hoje em sua coluna como se dá o processo de fabricação de um vencedor do Big Brother: Primeiro, cria-se uma identidade do anônimo (o loiro garanhão, jeito de mano e bombado) em três meses (janeiro-março) e depois se explora sua curta popularidade (abril-junho) em visitas a programas de TV, ensaios sensuais e factóides em colunas (terá um programa próprio? vai namorar quem? como está torrando o R$ 1 milhão?).” Todos estavam ali pelo prêmio. Quem disser o contrário está mentindo. Eles matariam as próprias mães se isto fosse necessário para levar o milhão. Como diz José Simão, da Folha de S. Paulo, o Brasil é o país da piada pronta. O final da história foi montado e mais de 20 milhões de pessoas aprovaram para que ele acontecesse.
Não existe nem nunca vai existir um reality show. Mostrar rostos plastificados para alcançar audiência é uma prática comum na televisão brasileira. Basta olhar para os outros programas que estão no ar. O que nós vemos é um excesso de bundas e uma escassez de cabeças. Ninguém pensa, apenas se mostra o que se tem. Já que não se tem cérebro, se tem peitos, coxas etc.
O resultado do Big Brother é uma alegoria do que acontece em todas as esferas da sociedade brasileira. Lembre-se das eleições (exemplo clichê, porém válido). A maioria dos eleitores vota apenas em quem lhes parece um bom candidato, segundo um determinado aspecto, seja este o fato de arrumar emprego para os parentes, honestidade, capacidade, enfim. Poucos são os que procuram saber na prática o que faz com que determinado candidato mereça o voto.