A porta do elevador abre. Ele, fora, de roupão, chinelo e jornal do dia nas mãos. Passa pouco das nove . Ela, enquanto desce ajeita o cabelo, estica o tailleur. Ritmo acelerado de trabalho, fruto da ocupação recém promovida à subdiretora geral. Ele coça a cabeça, ainda não sabe o que fará no dia que acabara de nascer. Talvez tivesse trabalho, talvez pegasse uma praia. Seu cotidiano era pautado a cada minuto, onde fatos acontecessem ou deixassem de acontecer. Ela divertia-se sexta à noite, sábado, porém ao chegar em casa domingo pela manhã, segurando o salto e quiçá um pouco embriagada, sabia que dali a algumas horas precisava estar novamente recomposta. Galgava como poucas sua carreira, tinha esperança de trabalhar na matriz, em paris. Seus olhos ainda não abrem direito, espia as manchetes. Devia subir até a mini cobertura, preparar um café, limpar o cinzeiro e jogar aquelas garrafas no reciclável. Pelo menos alguma coisa havia rendido, embora o prazo para entrega do roteiro fosse longo, preferia deixar as coisas adiantadas.
A porta do elevador abre. Olham-se, mas não é como das outras vezes. Ficara uma espécie de respeito, um respeito mútuo pelo que um tinha feito pelo outro. Pelo que nunca mais um faria pelo outro. "Oi", "oi". Ela segue para o sonhado futuro tentanto esquecer o que deixou para trás, enquanto ele sobe tentando lembrar onde estão as chaves do carro.