30 de outubro de 2008


Elas estavam na mesa de fora, logo vi. De dentro do tabalho já as percebia, o café foi por acaso, só para sair mesmo. Caminhei devagar até o bar, uma usava óculos, a outra tinha o cabelo curto, bem com cara de argentina. Ambas com alargadores maiores que o meu, deveria ter uns 20mm. A argentina calçava um tênis sem cadarço, estilo slip-on, mas o da Rainha, azul escuro. A outra uma sapatilha engraçada, verde-escura. Sobre a mesa uns cadernos de desenho, canetas variadas.


Peguei meu leite com café e sentei próximo. A argentina levanta, vejo uns desenhos de sapatos de mulher. Só podiam ser da moda ou design mesmo. A de óculos usa short de risca de giz, e tem a perna tatuada com flores ou algo do gênero. Foi comprar café e uma barra de chocolate, e volta com uns pirulitos também. Afasta um pouco o caderno, olha o desenho. Olha, enquanto abre o diamante negro. A outra pega um pirulito, concentrada, não sei o que desenha. Enquanto come o chocolate olha para os lados, como se verificasse o ambiente. Está de costas para mim, a outra senta à sua frente em diagonal - na minha frente.


Acabando o lanche, pergunta como está o desenho da outra. Ela pára, tira os óculos, mexe no piercing no lábio. Não ouço o que reponde, apenas que solta o cabelo e arruma a blusa azul marinho que esconde um sutiã verde-limão de alças finas. Parece ser um trabalho de aula, deve ser melhor do que escrever matérias. Embora não tenha sol, ela troca os óculos por escuros de lentes quadradas. Na bolsa entreaberta uma caixa de remédio para dor de cabeça, um isqueiro cor-de-rosa, carteira amarela de borracha - com cara de comprada na oscar freire.


Já a bolsa da argentina é bem pequena, ela deve carregá-la dentro da mochila cinza com alguns rabiscos, da qual tira um pulôver com gola alta. Venta um pouco, garanto que há um cachecol entre suas coisas. O meu ficou na sala. O isqueiro rosa acende um palheiro, a dona da mochila reclama da fumaça. A de óculos inutilmente o segura abaixo da mesa. Vejo que têm uma palavra tatuada no antebraço, pequeno, delicado. Não consigo ler. O café acabou, mas a matéria ainda não está pronta. Volto ao expediente. Com certeza tem horas que escrever é muito chato.

5 comentários:

Raphaela Cavalheiro disse...

Rá! Sabe o que eu mais gosto de escrever? Descrições! Amei a sua e praticamente vi as duas.. Achei que vc ia acabar falando com elas.. =/
Beijão!

Mamãe de primeira viagem disse...

oi Pedro... Adorei o texto, totalmente detalado... Pude desenhar essas duas na minha frente...Ah, é bom escrever, mas tem horas que a matéria não sai mesmoooooooooo. Aí, é a honra de encher a linguiça.. hehehhee
abraços...

Aline disse...

oi! era esse o texto?
muito bom mesmo! :)

beijos!

Aline disse...

e eu também pensei que você iria falar com elas.

haha

Anônimo disse...

muitas vezes a inspiração nos aparece nas pequenas, e nas pequenas coisas que vemos por aí.
não obstante será esse o motivo de tanta inspiração.

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