29 de setembro de 2008

O PRIMEIRO ROUND




O palco torna-se o ring e o soar do gongo fica por conta da vibração do público. All stars acionam pedaleiras e sincronizam bumbo e chimbal com as baquetas. O cheiro de cigarro toma conta dos ares, o que indica que a Célula está lotada. O lugar é pequeno, literalmente quatro paredes. Ali, todos se encontram e as batalhas entre bandas acontecem. Três grupos por vez sobem ao palco, semanalmente, a partir das 23 horas. O público que entra à casa tem acessórios punks ou convencionais, piercing na sobrancelha ou chapinha nos cabelos, all star, salto alto ou coturno, chapéu ou bandana, jeans básico ou estilo inusitado. Ao lado do viaduto do bairro João Paulo, as noites de sextas-feiras fazem ecoar os versos que embalam a luta pela afirmação musical na Ilha.
A semelhança com o filme não está só no nome. Além do caráter de resistência dos músicos, as regras remetem àquelas impostas pelo personagem de Brad Pitt nas telas. Todos devem estar por dentro do código do duelo sonoro.





regra n° 1 - você faz suas próprias músicas;
regra n° 2 - você faz suas próprias músicas;
regra n° 3 - a festa é toda sexta na Célula ;
regra n° 4 - os shows duram 40 minutos;
regra n° 5 - são sempre três bandas e um DJ;
regra n° 6 - quem chegar até às 23h só paga R$5 pila;
regra n° 7 - banda que começar de palhaçada não toca;
regra n° 8 - se quer brigar vá para outra festa, aqui a luta é outra.
(fonte: http:// http://www.clubedaluta.mus.br/)






A união da classe musical de Floripa é a nova forma que o Clube da Luta experimenta para apresentar a música a quem se dispõe a ouvir. Diante de tudo o que não existia para os artistas da cidade, as bandas locais não se deixaram conformar e tampouco se acomodaram com a situação. Se outrora não havia espaço e valorização, hoje as perspectivas do sucesso não estão aquém como estavam. “Infelizmente os artistas musicais daqui têm que lutar pra mostrar o seu trabalho”, registra Maurício Alves – baterista da banda Gubas e Os Possíveis Budas. Esta necessidade alimentou a sede pela luta, que está aí para quem quiser encarar.


Encontros entre duas ou três bandas que aconteciam aqui e acolá nas noites de Floripa passaram a ser parte de uma mesma idéia em setembro de 2006. “O Marcinho (banda Tijuquera) teve a atitude de juntar isso”, explica Jean Mafra ao se referir aos projetos Samambaia Convida, Circuito Aerocirco e Berbiga’s Rock Night, precursores do Clube da Luta. A partir de então, a ousadia não ficou em segundo plano: no Espaço Fios e Formas, embaixo da ponte Hercílio Luz, oito bandas passaram a se apresentar freqüentemente a fim de conquistar público e um lugar ao sol.


Para o vocalista Gustavo Barreto, que é músico há 15 anos, a iniciativa é inédita em Floripa e vem como resultado de uma perspectiva de valorização da produção artística local, deficitária já há algum tempo. “O Clube surgiu para que as pessoas comecem a fazer sua crítica musical e criem um sentido de identificação com a música produzida aqui”, Gustavo afirma.


Hoje, são 16 bandas integrantes do Clube da Luta. Samambaia Sound Club, Gubas e os Possíveis Budas, Jeremias sem Cão, Aerocirco, Maltines e Andrey e a Baba do Dragão de Komodo estão entre elas, que se alternam em apresentações na nova casa do projeto, a Célula Cultural. Os duelos contam com os solos de guitarra e com performances animadas reveladas de acordo com o estilo. Para se aquecer do frio, valem desde requebradas de quadris nos sons mais grooves até as chacoalhadas de cabeça acompanhando os sons mais rock and roll. Aqui vale a analogia: o lugar tem se tornado a célula embrionária da música em Floripa. Um dos produtores dos eventos do Clube, DJ Zé Pereira, observa: “é preciso que as pessoas de Santa Catarina reconheçam que aqui tem música de qualidade”.


Seja por meiose ou mitose, a música ali se reproduz e vence o espaço da membrana celular: no mês de aniversário de dois anos do projeto, a luta recebeu uma nova aliada para divulgação. No início de setembro, uma parceria com a emissora MTV foi selada oficialmente no show de lançamento do CD ao vivo da Aerocirco. Com a crescente presença de apreciadores na Célula e com a projeção que os lutadores vêm atingindo, uma coisa é certa: o primeiro round já tem um vencedor.

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