Foi engraçado quando nos encontramos. Na verdade é só maneira de falar, foi sim estranho. Tudo bem, tinha muito mais gente, o local cheio. Porém mesmo assim é complicado assimilar que tudo que foi passado hoje virou apenas passado.
Ela chegou bem depois de mim. Sentou numa mesa ao lado da minha, a turma é grande. Cumprimentamo-nos normalmente, até porque poucos ali sequer sabiam o que tinha passado. Estava com um vestido preto, o all-star que muitas vezes combinava com o meu. Uma faixa segurava os cabelos, agora curtos; foi comprada em palermo, quando viajamos juntos. Senta-se, está sorridente. Acende o cigarro fino, pede o cinzeiro ao garçom de forma quiça provocante, como sempre fazia. Divertia-se com isso.
Conheço-a bem. Sei que está só, mas não faço nada. Parece um pouco deslocada, mesmo conhecendo todos que ali estão há anos. Se as coisas aconteceram como aconteceram, não cabe a mim hoje mudar nada. Assim é a vida. É meio orgulhoso isso, penso. Até pode ser, mas fazer o quê. Também gostaria que fosse de outra maneira.
Volto e meia olho-a, sempre disfarçadamente. Acho que ela faz o mesmo. Alguém me chama na outra mesa, há uma cadeira vaga. Vou, seria chato não fazê-lo, somos adultos. Sento ao seu lado. Ela sopra fumaça na minha cara, como sempre fazia, principalmente na cama. Com certeza já ultrapassou sua cota, dois uísques são bastante para ela. Não falo nada, não tenho nada com isso. Distraímo-nos, a conversa é boa, não é sempre que se juntam tantos amigos. Toda semana deveria ser aniversário de alguém.
O ocupante da cadeira que invadi retorna. Ri, me empurra para o lado e pega outra. Estamos bem próximos. Seu perfume é sempre o mesmo, não foi a toa que acertei o presente no último aniversário. Admiro sua espádua, as alças do vestido que tantas vezes tirei. Aproveitamos bastante um ao outro. Não havia coisa melhor do que esperá-la, enquanto, de costas, virava-se lentamente ao passo que revelava seu corpo e caminhava até a cama. Estaria usando aquele sutiã com listras brancas e pretas? Não sei, nem saberei.
Não queria que as coisas fossem assim. Não escolho como elas são. Da próxima vez que nos vermos, quem sabe.